Para o chef Claude Troisgros, o vinho português é “um dos maiores do mundo”

O maior evento de vinhos portugueses no Brasil arrancou este fim-de-semana, o primeiro de dois, com chefs e actores brasileiros a descobrirem vinhos, castas e terroirs em conversas descontraídas com produtores portugueses.

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Jorge Lucki considera que "os vinhos portugueses ganharam em qualidade e em elegância, coisa que não tinham antigamente" Fernando Donasci
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Da esquerda para a direita: José Avillez, Monique Alfradique, Cecília Aldaz, Thiago Rodrigues, Frederico Falcão, da ViniPortugal, e Claude Troigros Fernando Donasci
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Da esquerda para a direita: Jorge Lucki, Pedro Baptista, Claude Troigros, Luís Sottomayor e José Avillez Fernando Donasci

Foi com os enólogos que fazem os dois vinhos mais icónicos de Portugal, Luís Sottomayor, que assina o Barca Velha, no Douro, e Pedro Baptista, responsável pelo alentejano Pêra Manca, que arrancou este sábado a 8.ª edição do Vinhos de Portugal no Brasil. A conversar com os dois estiveram o chef Claude Troisgros, francês que há mais de 40 anos vive no Brasil e que é um rosto bem conhecido de todos também pela sua participação no programa televisivo Mestre do Sabor, o chef português José Avillez e o crítico brasileiro Jorge Lucki.

Gravada num hotel de Lisboa e transmitida para o Brasil, para todos os que compraram bilhetes para este evento (que, devido à pandemia, volta a ser digital, como já tinha acontecido em 2020), a conversa, uma de 33 que vão acontecer ao longo dos dois fins-de-semana do Vinhos de Portugal, passou pela gastronomia e pelo vinho, com Troisgros a notar que em ambas as áreas “a tradição está muito presente”, conjugando-se com a enorme evolução das últimas décadas.

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Fernando Donasci

Uma evolução graças à qual, como sublinhou Jorge Lucki, “os vinhos portugueses ganharam em qualidade e em elegância, coisa que não tinham antigamente”. E, segundo o crítico, “esse foi o grande salto”. O que existe hoje, conclui Troisgros, é “um casamento perfeito entre o povo, a história, o vinho e a gastronomia”.

Enquanto a conversa decorria animada num dos estúdios, no outro o master of wine brasileiro Dirceu Vianna Júnior apresentava a primeira das quatro grandes provas de vinho do dia (são 17 ao todo ao longo do evento), uma Viagem ao Douro com vinhos da Quinta do Crasto, Symington Family Estates, Quinta da Casa Amarela e Palato do Côa. Vai ser assim durante os próximos dias, com provas e as conversas mais descontraídas entre personalidades brasileiras, chefs, sommeliers, actores, apresentadores – neste primeiro fim-de-semana, além de Troisgros, estão em Lisboa a sommelière Cecília Aldaz, a apresentadora Monique Alfradique e o actor Thiago Rodrigues, enquanto o chef Jefferson Rueda, cujo nome estava anunciado, ficou retido em Amesterdão por ter contraído covid-19 depois de participar na cerimónia dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo.

Na noite de sexta-feira, José Avillez recebeu todos os participantes no seu Bairro do Avillez e, com a ajuda dos vinhos escolhidos por Jorge Lucki, a conversa correu animada. Já tínhamos comido o célebre bacalhau à Brás com azeitonas explosivas, um prato icónico do chef português, e a perdiz do Alentejo, e esperávamos o mil-folhas de pastel de nata que encerraria a refeição, quando Claude Troisgros confidenciou que acha o vinho português “um dos maiores do mundo”. Quando há mais de quatro décadas chegou ao Brasil, o chef francês “não tinha qualquer conhecimento” do tema. “Nessa altura, o vinho português era o Vinho Verde, aquele da garrafa de palha”, recorda.

Fernando Donasci
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Acompanhou depois a evolução que ele sofreu, passou a tê-lo nos seus restaurantes e, entre outras qualidades, nota que os tintos têm “uma estrutura de envelhecimento que vai muito bem com a gastronomia em geral, principalmente a da carne, da caça, dos molhos mais estruturados”. Lamenta, por outro lado, que a maioria dos brasileiros não tenha ainda descoberto todo o potencial dos brancos e mostra-se encantado com os que acabámos de provar no jantar – para além do Niepoort Redoma Reserva, Lucki escolhera dois brancos da Aveleda para comparar a mesma casta trabalhada pelo mesmo enólogo mas em dois tipos de solo diferentes, xisto e granito.

Sentada à frente de Troisgros, Monique Alfradique, que trabalhou com o chef francês e com Avillez no Mestre do Sabor, aproveitava a presença de Dirceu Vianna Júnior para aprender o mais possível sobre um universo que conhece porque na casa dos seus pais sempre se bebeu vinho, mas em relação ao qual ainda tem muito a descobrir. Que perguntas vai fazer nas conversas deste fim-de-semana com os produtores? “Todas!”, responde imediatamente, com uma gargalhada. “É a minha primeira vez em Portugal e a primeira que vou estar com enólogos, pessoas que conhecem o tema a fundo, e neste jantar já estou conhecendo muitas uvas [castas] e muitas das regiões também. Decorar o nome de todas as uvas eu não vou conseguir, mas experimentei a Touriga Nacional e já adorei.”

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O "chef" Claude Troigros e Monique Alfradique Fernando Donasci

Depois desta passagem por Lisboa e da oportunidade de conhecer produtores das várias regiões vinícolas portuguesas no Vinhos de Portugal, Monique vai certamente aprender o nome de muitas outras castas. Daqui para a frente, diz ainda, “vai ser muito bom chegar num restaurante, receber a carta de vinhos" e saber o que vai escolher, por já conhecer os seus gostos. 

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