Pólo de inovação social na Mitra deve abrir portas em 2023

Antigo albergue está em obras e acolheu o terceiro aniversário da Casa do Impacto, uma incubadora da Santa Casa que quer fazer de Lisboa a capital europeia do empreendedorismo social.

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A antiga Mitra está em obras exteriores há algum tempo, mas faltam ainda trabalhos no interior Rui Gaudencio

“Vai para a Mitra” é um insulto lisboeta que começa a ter pouca razão de ser. O antigo albergue para mendigos e sem-abrigo, que deu ao Poço do Bispo a fama de lugar pouco recomendável, está a ser transformado num pólo de empreendedorismo e inovação social que, sabe-se agora, deve abrir portas em meados de 2023.

A previsão foi revelada esta quarta-feira, na Mitra, por Ana Azevedo, administradora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) com o pelouro da gestão imobiliária e património. “Estamos com os projectos de especialidades e de execução em curso”, afirmou, estimando que em Dezembro seja possível lançar concurso para as obras da primeira fase. Quanto à segunda, com abertura prevista para 2024, está ainda dependente de candidatura ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e ao Fundo Social Europeu.

As obras, em boa verdade, já decorrem há meses, mas apenas no exterior dos pavilhões alinhados perpendicularmente à Rua do Açúcar. A ideia do projecto Lisboa Social Mitra é que no futuro, quando os trabalhos interiores finalmente terminarem, sirvam de casa a projectos de economia social, como a recém-lançada Valor T, uma agência de emprego para pessoas com deficiência.

Ou como a Casa do Impacto, uma incubadora de empreendedorismo social da Santa Casa que celebrou o terceiro aniversário e foi para a Mitra festejar. “Espero que daqui a dois anos, no máximo, estejamos aqui já num ambiente completamente diferente, a fervilhar”, desejou Edmundo Martinho, provedor da SCML.

A Casa do Impacto, cuja sede é hoje no Convento de São Pedro de Alcântara, vai ocupar uma grande parte da futura Mitra com o objectivo de ajudar startups da área social a desenvolverem as suas ideias e ganharem escala. Em três anos, o projecto alavancou 48 empresas e investiu cerca de dois milhões de euros em projectos com impacto social. “Ao princípio, os empreendedores sociais eram vistos como activistas, pessoas com muito boas intenções, mas que não tinham estrutura de negócio”, comentou Inês Sequeira, directora da Casa do Impacto, convicta de que essa já não é a percepção dominante.

O novo objectivo da instituição passa por apoiar também projectos e empresas virados para a sustentabilidade ambiental para posicionar Lisboa como Capital Europeia do Empreendedorismo com Impacto. “Queremos que as questões sociais e ambientais sejam encaradas como um todo”, disse Inês Sequeira.

O actual projecto para a Mitra, que “no fundo vai ser uma pequena vila”, nas palavras de Ana Azevedo, contempla uma academia sobre economia social, uma creche com capacidade para 83 crianças e uma quinta comunitária para fornecer produtos alimentares à própria Mitra. Está prevista a manutenção do lar de idosos que já ali existe e a abertura ao público de um jardim. Há alguns anos, quando a posse dos edifícios passou da câmara para a Santa Casa, havia a intenção de criar novas respostas sociais para pessoas vulneráveis, mas essa ideia acabou por ser abandonada.

Nos debates e discursos de quarta-feira foi dominante a ideia de que economia e economia social serão sinónimos no futuro. “Temos de deixar de entender a responsabilidade social [das empresas] como meros episódios de ligação com a comunidade”, defendeu Edmundo Martinho. “Uma empresa não pode achar que é muito responsável ambientalmente e, ao mesmo tempo, ser socialmente poluidora”, acrescentou.

O provedor da Santa Casa disse que “há muito trabalho para fazer” em Portugal na medição do impacto das decisões tomadas pelas empresas e que, no que toca à economia social, “a única medida adequada é o impacto” que têm na sociedade. Mas também lhes deixou um aviso: “Que não fiquemos bêbedos com o sucesso.”

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