Presidente do sindicato dos tripulantes diz que quer evitar greve na TAP

SNPVAC convocou os associados da TAP para uma assembleia-geral de emergência esta quinta-feira para discutir medidas a tomar face ao não pagamento de horas extraordinárias previsto no acordo de empresa.

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Henrique Louro Martins, presidente do SNPVAC Daniel Rocha

O presidente do SNPVAC quer evitar que da assembleia-geral desta quinta-feira saia a ideia de uma greve na TAP dado o descontentamento com o “não pagamento de horas extra”, que seria “perigosa”, apelando a outros mecanismos de resolução. 

Em declarações à Lusa, o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Henrique Louro Martins, explicou a razão da convocação da assembleia-geral extraordinária de quinta-feira, que serve para debater a falta de pagamento de horas extra aos tripulantes de cabine, que o sindicato diz estar a violar o acordo de emergência assinado com a companhia aérea.

“O objectivo é os tripulantes de cabine associados do SNPVAC tomarem conhecimento desta situação e da interpretação que a TAP faz, de maneira que esta possa ser depois resolvida em tempo útil e para que o acordo de emergência seja cumprido na sua totalidade”, indicou.

“Os tripulantes de cabine deram uma prova inequívoca de solidariedade uns com os outros, ao reduzirem 15% do seu período normal de tempo de trabalho e por consequência do seu vencimento para preservar o posto de trabalho do colega”, salientou, acrescentando que também “cabe à TAP e ao Governo olharem para esta situação com principal importância porque foram todos intervenientes”.

Henrique Louro Martins garante que o pagamento destas horas não foi revogado no acordo de emergência, afirmando que “as cláusulas revogadas no acordo de emergência estão lá bem claras e explícitas”. Segundo o presidente do sindicato, esta questão agudizou-se “nos meses de Junho e Julho, não em todas as categorias profissionais, mas em algumas, considerando urgente que a TAP “corrija” a questão.

Questionado sobre se a mudança de administração da companhia aérea teve alguma influência nesta questão, o líder sindical disse achar que não. “Isto é uma matéria apenas de [interpretação de] português e de a TAP querer por si só cumprir o que está escrito”.

Acerca de uma possível greve para protestar sobre o não pagamento de horas extra, Henrique Louro Martins disse que a “palavra greve numa fase destas poderá ser muito perigosa”.

“Antes da greve existem mecanismos que têm de ser usados por todos os sindicatos, nomeadamente o nosso, e principalmente numa fase tão complicada como a que vivemos. O sindicato que faz um acordo de emergência para salvar 700 postos de trabalho não pode depois vir lançar uma greve. Mas há aqui vários recursos”, garantiu, apontando uma possível mediação pelo Ministério do Trabalho e negociações com o Ministério das Infra-estruturas e Habitação.

Retoma no ar

Segundo o presidente do SNPVAC, “todos os acordos têm problemas”, apontando que já imaginava que “isto ou outra questão qualquer” fosse surgir. “Não me surpreende, os sindicatos têm que mostrar que têm razão para a situação ser corrigida”, afirmou.

Acerca da situação da TAP, Henrique Louro Martins disse que “parece ter alguma retoma”, mas alertou para a necessidade de aprovação do plano de reestruturação da companhia, por parte de Bruxelas. “Sem o plano é completamente prematuro falar do que quer que seja”, indicou, referindo que este instrumento “tarda em sair” e recordando que “foi pedida a investigação aprofundada”.

Isso “deixa-nos preocupados porque um plano que é limpo não precisa de investigação aprofundada”, realçou, sublinhando, no entanto, que é preciso aguardar pelo resultado e “depois ter uma ideia formada e tomar decisões sobre o que se vai fazer”.

O SNPVAC convocou os associados da TAP para uma assembleia geral de emergência esta quinta-feira para discutir “medidas a tomar” face ao não pagamento de horas extraordinárias previsto no acordo de empresa

A TAP assinou em Fevereiro deste ano acordos temporários de emergência com todos os sindicatos no contexto da declaração da companhia como empresa em situação económica difícil, de forma a permitir a reestruturação da companhia.

Sindicato dos pilotos vai a votos

Nos dias 8 a 12 de Novembro haverá eleições para os órgãos sociais do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), depois de a actual direcção, presidida por Alfredo Mendonça, ter renunciado no início de Agosto, para evitar a possibilidade de convocação de uma greve de pilotos na TAP no âmbito de uma assembleia de empresa que estava convocada para dia 10 desse mês.

Meses antes, em Abril, a direcção já tinha resistido a uma moção de destituição que tinha sido apresentada por um conjunto de associados.

Já o Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (Sitema) tem em curso uma greve às horas extraordinárias e às deslocações ligadas a acções de manutenção fora de Portugal por causa do envolvimento de trabalhadores seus associados no despedimento colectivo, quando, diz, ficou salvaguardado no acordo de emergência que tal não aconteceria. Esta greve parcial, diz o Sitema, “conta com cerca de 99,9% de adesão dos seus associados”.

Na semana passada, este sindicato afirmou que a TAP tinha proposto trabalho extraordinário a esta classe de profissionais, e que, por cada hora extra, a empresa “paga-a a dobrar” a quem esteja disponível. Isso, destacou o Sitema, não só ocorre numa conjuntura de forte redução do número de funcionários da empresa, que tem ainda um despedimento colectivo em curso, como também “viola o acordo de emergência” assinado entre as duas partes.

Em Março de 2020, mês em foi declarada a pandemia de covid-19, a TAP tinha 9143 trabalhadores, quando em Junho deste ano esse número tinha encolhido para 6804. Assim, nesse período saíram da transportadora aérea 2339 trabalhadores, o que equivale a 25% do total, entre contratos não renovados e saídas negociadas.

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