A máquina do tempo

A dislexia continua a ser um tema muito escondido, que afecta 10% da população mundial e não é uma simples troca de letras, é uma alteração neurobiológica. Este domingo assinala-se o Dia Mundial da Dislexia.

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Jason Leung/Unsplash

Imagine, que tem acesso a uma máquina do tempo que lhe permite regressar por uns instantes aos tempos felizes da infância. Imagine a sala de aula, a professora da primária, o quadro preto (ou verde) e o pó do giz. Oiça as gargalhadas do recreio, sinta o cansaço das correrias e as brincadeiras e amuos com os amigos.

Entre na sala depois, de um intervalo realmente feliz, e ainda a transpirar e cheio de calor sente-se ao lado do seu melhor amigo, entre os risos próprios da idade, a vontade de continuar a brincar e a curiosidade em aprender. Afinal de contas é tudo novo. Por mais divertido que seja o recreio, a ideia de aprender a ler provoca em si uma sensação boa, fá-lo sentir crescido. Os adultos já não lhe escondem segredos.

Imagine que, por um qualquer motivo, a máquina do tempo não avança. De repente, todas as crianças vão avançando entre letras, ditongos e palavras, mas o leitor quase não avança. Algo de estranho se passa. O seu livro é diferente do das outras crianças, mas ninguém se apercebeu. Em vez dos textos que os seus colegas lêem, alguém fez uma brincadeira de mau gosto e o seu livro tem apenas sopas de letras onde é necessário fazer um enorme esforço para encontrar as palavras.

Começa a ficar cansado e ligeiramente irritado. A professora, que não se apercebe que as palavras do seu livro estão todas baralhadas, pede para que leia em voz alta para os colegas. Sente-se desconfortável. Vai demorar imenso tempo a encontrar as palavras naquela confusão de letras. Não dá parte fraca, e soletra corajosamente, inventa algumas palavras e arranja 1001 estratégias para distrair a professora e desviar a atenção da leitura. Os olhos estão todos postos em si. Os seus amigos olham-no surpreendidos. Mas afinal o quê que lhe deu? Fica nervoso, sente suores frios, e o medo dá lugar à raiva.

Isto começa a acontecer frequentemente. O que para os seus amigos é básico para si deixa-o exausto. Na turma surgem sorrisos trocistas. A escola deixou de ser divertida e sente cada vez mais o peso dos olhares. Ir ao quadro passou a ser um pesadelo, e quando escreve as palavras transformam-se num comboio de letras dançantes. Só quer sair dali, mas não pode. Começa a interiorizar que deve ser burro e sente-se claramente diferente das outras crianças, e na verdade só queria perceber porquê.

Felizmente, de repente, a máquina do tempo volta a trazê-lo para a sua vida adulta, onde de imediato pega num livro e fica aliviado quando percebe que lê correctamente e sem qualquer dificuldade. Mas, imagine que a máquina do tempo o tinha deixado naquele contexto meses e meses na escola... Como teria sido a sua aprendizagem? Como teria ficado a sua auto-estima?

Esta é a realidade das crianças disléxicas, quando não diagnosticadas ou não acompanhadas.

A dislexia continua a ser um tema muito escondido, que afecta 10% da população mundial e não é uma simples troca de letras, é uma alteração neurobiológica que se traduz numa dificuldade na leitura e na escrita que impacta a memorização e que não está relacionada com falta de inteligência.

Crianças disléxicas aprendem de forma diferente. Quando alunos e professores estão sensibilizados para o tema, a aprendizagem destas crianças é garantidamente mais leve e feliz! Pode saber mais sobre dislexia em Dislexia Day by Day.

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