A pausa para respirar e ponderar

Cerca de 360 minutos foi o tempo livre das distracções habituais que a empresa norte-americana “concedeu” aos seus utilizadores, no maior intervalo de tempo em que as aplicações estiveram inutilizáveis, na História.

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Este é um texto sobre as seis horas da passada segunda-feira em que a Facebook Inc., empresa que detém o Facebook, Messenger, Instagram e WhatsApp, nos deu uma pausa para respirar. Cerca de 360 minutos foi o tempo livre das distracções habituais que a empresa norte-americana “concedeu” aos seus utilizadores, no maior intervalo de tempo em que as aplicações estiveram inutilizáveis, na História. Tudo graças a uma falha numa alteração das configurações.

Ao princípio, a reacção foi de espanto, enviar a mensagem, enviar de novo, e o símbolo no topo da aplicação que continuava a pensar. Os mais independentes continuavam as conversas no Signal. Quem tinha de trabalhar e usa com frequência estes canais como forma de comunicação rápida, teve de encontrar uma alternativa. Voltámos ao “velho e-mail” para mensagens cordiais, bem escritas, com tempo e mais que três linhas. E o que dizer das mensagens informais? Onde ficaram? Foram convertidas em SMS –  short message service  – que surgiram pela primeira vez em 1992, num formato tipo telegrama, com o primeiro texto a ser um “Feliz Natal” enviado através de um Nokia.

Dessa época festiva estamos longe ainda, mas podemos aproveitar o espírito de meditação, de descanso, de proximidade dos mais amados, que esse tempo evoca, para pensar sobre este apagão das redes sociais. Será que nos terá feito sentir excessivamente dependentes delas? Deles? De uma só empresa, que usufrui de uma posição que pode vir a ser considerada como monopólio

Onde ficam os direitos dos consumidores perante tal inexistência de concorrência? Existe uma clara falta de regulamentação deste mercado, assim como um excesso de desconhecimento por parte das pessoas, sobre os riscos de utilização deste tipo de plataformas. Confessa-se que o primeiro receio quando houve a falha dos serviços na passada segunda-feira foi de que se tratasse de uma brecha de segurança nos servidores da empresa.

É um facto que hoje recorremos ao WhatsApp para tudo, com grupos de amigos, trabalho, universidade, todas as conversas estão lá, os conteúdos, as informações, os códigos. E se tivéssemos usado esta pausa para repensar a forma como comunicamos, os canais que escolhemos, para falar com quem, em função do contexto, pessoal ou profissional? Como nos podemos aproximar de quem é mais próximo, offline? Sem esta dependência das notificações? E se ponderarmos melhor, que conteúdos partilhar com estes gigantes tecnológicos? Não será mais sensato? Os avanços foram muitos desde a comercialização da Internet nos anos 90, há 30 anos, mas, como em tudo, sempre que ponderamos sobre o futuro é preciso considerar os argumentos a favor e contra, pesar as opções, as utilizações, pela forma como queremos que o devir seja.

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