Primeiro-ministro checo favorito nas legislativas mesmo após as revelações dos Pandora Papers

Apesar de as sondagens apontarem para a vitória de Andrej Babis, o bloco democrático, composto por cinco partidos e duas coligações, pode vir a conseguir uma maioria no Parlamento da República Checa.

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O primeiro-ministro checo, Andrej Babis, foi eleito primeiro-ministro em 2017 MARTIN DIVISEK/EPA

O partido do primeiro-ministro da República Checa, Andrej Babis, parecia estar a afundar-se esta primavera nas sondagens para as eleições legislativas, devido à má gestão da pandemia de covid-19. Porém, começou a recuperar o apoio à medida que melhorava a situação sanitária no país. Mesmo depois de o líder do executivo ter sido um dos identificados na fuga de informação conhecida como Pandora Papers, na véspera das eleições, marcadas para sexta-feira e sábado, as sondagens apontam para a sua vitória.

O segundo homem mais rico da República Checa, Babis estreou-se na política em 2011, quando formou o partido ANO (lê-se “sim”, em checo, e é a sigla para Acção de Cidadãos Descontentes). Foi eleito para liderar o executivo da República Checa em 2017 e formou uma coligação minoritária com o Partido Comunista de Boémia e Morávia.

Uma das suas bandeiras foi o combate à corrupção e à evasão fiscal. Mas já em 2017 pairava sobre Babis a acusação de fraude por suspeitas de abuso de subsídios europeus para uma empresa de agro-pecuária. No passado domingo, voltou a ser exposto: um consórcio jornalístico de investigação revelou a compra de um castelo no Sul de França no valor de 19 milhões de euros financiada através de uma empresa offshore.

Babis tem negado as acusações, afirmando ter agido legalmente, e tem desvalorizado a investigação, descrevendo-a como uma campanha de difamação contra ele e o seu partido. “Estão a tentar manchar a minha reputação antes das eleições parlamentares”, escreveu no Twitter uma hora antes da publicação dos Pandora Papers.

O primeiro-ministro tem sido criticado pela oposição e “os eleitores não acreditam que seja mais fiável do que os outros candidatos”, disse à Al-Jazeera Martin Buchtík, sociólogo no Instituto de STEM em Praga. Mas a sua base de votos, mais velha e rural, deve permanecer leal, continuou.

Tendo a seu favor as questões de imigração e a relação do país com a União Europeia, notam os analistas, não se espera que as descobertas venham a impactar o desfecho das eleições.

Luta pelos votos

As sondagens estimam que o ANO conquiste cerca de 27% dos votos, uma vantagem de quatro a seis pontos face à SPOLU – a coligação de centro-direita entre três partidos democratas-cristãos e conservadores. Uma segunda formação foi criada para fazer frente ao primeiro-ministro, que junta o Partido Pirata (já governa a capital, Praga) e o Stan, um movimento constituído por presidentes de câmaras e membros independentes.

O bloco democrático, como se denominam os cincos partidos das coligações, tem enfrentado obstáculos no combate à campanha populista e de desinformação do ANO. Calcula-se que a sua campanha contra o partido no poder tenha chegado a metade dos eleitores, notou a revista Foreign Policy. 

A batalha pelos votos também é partilhada com o partido de extrema-direita, antieuropeu e anti-imigração Liberdade e Democracia Directa (SPD), que tem procurado um lugar nas negociações pós-eleições. A condição para integrar o executivo? Um referendo sobre a permanência do país na UE.

E se a formação do primeiro-ministro alcançar a maioria dos votos, pode ver dificultada a tarefa de formar um Governo. Especialmente se recusar uma cooperação governamental com o SPD, como aconteceu nas últimas eleições.

Porém, Babis conta com o apoio do Presidente da República Checa, Miloz Zeman, que já disse que irá recorrer aos seus poderes presidenciais para nomear para primeiro-ministro o líder do partido com mais votos.

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