PCP exige apuramento de responsabilidades de ex-governantes envolvidos nos Pandora Papers

Comunistas insistem na ligação entre casos como o dos Pandora Papers e as privatizações e falam na porta giratória entre membros de sucessivos governos de PS, PSD e CDS-PP e os conselhos de administração de grandes empresas.

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Jerónimo de Sousa, líder do PCP LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O PCP exigiu nesta terça-feira que sejam apuradas responsabilidades “até às últimas consequências” sobre o envolvimento de ex-governantes portugueses na ocultação de activos em empresas offshore, referenciados na investigação jornalística denominada Pandora Papers.

“Os elementos agora divulgados (...), com referências ao envolvimento de ex-governantes portugueses em práticas de ocultação de riqueza e evasão fiscal, reclamam esclarecimentos e o apuramento de responsabilidades até às últimas consequências”, referem os comunistas em comunicado.

Para o PCP, os documentos agora revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), a par de outros processos como os Panama Papers, Luxleaks, Swiss Leaks, Luanda Leaks e Malta Files, “tornaram mais conhecido o monstruoso volume de processos de fuga aos impostos levados a cabo pelo grande capital”.

“Processos com a cobertura e activa participação das principais potências capitalistas, pelo que não é de estranhar a presença de grandes empresas portuguesas, bem como de ex-governantes que por elas também circulam”, aponta.

Os comunistas reafirmam que, a estas práticas, “inseparáveis das privatizações, da livre circulação de capitais, da banalização das sociedades offshore, do papel da União Europeia na promoção deste sistema, incluindo no território nacional (Zona Franca da Madeira), junta-se a porta giratória entre membros de sucessivos governos de PS, PSD e CDS-PP e os conselhos de administração de grandes empresas”.

Portugal perde todos os anos milhares de milhões de euros com as offshore, “empresas que são utilizadas para ocultar riqueza, associada ao objectivo de fuga aos impostos ou a práticas como o branqueamento de capitais, o financiamento de actividades ilegais ou de terrorismo”, lê-se no documento.

O PCP defende que as propostas anteriormente apresentadas, ganham hoje nova actualidade, perante mais uma demonstração da necessidade de eliminar os paraísos fiscais, nomeadamente a proibição de quaisquer relações comerciais ou profissionais entre entidades nacionais e outras sediadas em offshore, não cooperantes, e o aprofundamento da cooperação entre Estados, de forma a travar estes processos.

Além destas, os comunistas defendem ainda o dever de informação especial das relações com entidades sediadas em centros offshore, ainda que cooperantes, a criação de uma taxa especial sobre transacções financeiras para paraísos fiscais, a exclusão de apoios públicos para entidades sediadas em offshore, incluindo no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a obrigatoriedade da tributação em Portugal da riqueza gerada no país e o reforço da intervenção da Autoridade Tributária junto dos grupos económicos.

Contudo, adianta, para resolver “este grave problema”, a solução passa pela eliminação dos paraísos fiscais, a proibição de transferências financeiras e de localização de sedes fiscais de empresas nacionais ou multinacionais nesses territórios, e exige “o controlo público na circulação internacional de capitais e da banca comercial”.

A nova investigação do consórcio (ICIJ, na sigla em inglês), chamada Pandora Papers, põe a descoberto os “segredos financeiros” de 35 líderes mundiais (actuais e antigos) e de mais de 330 políticos e funcionários públicos, de 91 países e territórios, entre os quais Portugal.

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