Uma investigação do Wall Street Journal chamada Ficheiros Facebook trouxe a público documentos internos da rede social que expuseram o que já se adivinhava: a empresa dá prioridade ao lucro em detrimento da responsabilidade social e segurança dos utilizadores; e mesmo as bem-intencionadas tentativas de melhoria são muitas vezes mal-sucedidas.

Mas trouxeram algumas surpresas, em especial nos detalhes. 

Os documentos foram fornecidos por uma antiga funcionária do Facebook, Frances Haugen, que também deu neste fim-de-semana uma entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS. 

Eis algumas das revelações. Isoladamente, qualquer uma destas alíneas já seria preocupante. 

 
           
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  • Funcionários de partidos e assessores de políticos admitiram que criam conteúdo polarizador e gerador de indignação porque o Facebook incentiva a que o façam. Sem esse conteúdo não conseguiriam gerar respostas na rede social, e gerar respostas nas redes sociais era o trabalho destas pessoas. 
  • Um fenómeno parecido aconteceu com os media.
  • O Facebook tinha um processo para que os posts de figuras públicas que gerassem queixas fossem vistos por moderadores experientes. O objectivo era evitar os riscos reputacionais de retirar conteúdo de celebridades. Na prática, 90% deste conteúdo não era revisto, isentando aqueles utilizadores VIP do cumprimento das regras.
  • A empresa sabia, através de dados internos, que o Instagram é uma aplicação nociva para muitos utilizadores, particularmente para raparigas adolescentes. Essa informação nunca foi tornada pública pela empresa, que chegou a anunciar planos, entretanto suspensos, para lançar um Instagram para crianças. Internamente, os pré-adolescentes foram descritos como uma audiência valiosa e por explorar.
  • Em 2018, o Facebook fez uma mudança no funcionamento do feed, para passar a mostrar mais o conteúdo de amigos e famílias, e menos o conteúdo de páginas como as da comunicação social. Foi anunciada como uma medida para aumentar o bem-estar dos utilizadores. Os dados internos mostraram que estava a ter o efeito contrário. Mark Zuckerberg resistiu a adoptar soluções, com medo que diminuíssem a interacção dos utilizadores com a plataforma.
  • Muitos funcionários assinalaram que o Facebook estava a ser usado para tráfico de droga e de pessoas, e para incitar à violência contra minorias étnicas. As medidas para tentar resolver estes problemas foram insuficientes ou, em alguns casos, não existiram.

É importante notar que, especialmente desde 2016, o Facebook tem tentado resolver algumas das falhas; que a empresa nega pelo menos a dimensão de alguns dos problemas apontados; e que a rede social trouxe benefícios para muitas pessoas. Para alguns utilizadores, foi mesmo a porta de entrada para a Internet.

Numa entrevista na sexta-feira à CNN, um dos vice-presidentes do Facebook, Nick Clegg – antigo vice-primeiro-ministro britânico –, tentou conter danos e afirmou que na rede social surge "o bom, o mau e o horrível da Humanidade". Talvez assim seja, mas o Facebook não é um espelho, não tem de ser o reflexo do pior que a Humanidade consegue ser, e muito menos tem de o amplificar.

Teoriza-se no New York Times que a empresa já está demasiado enfraquecida para consertar a sua própria plataforma, apesar de o negócio ser saudável, e que caminha para o fim. É uma ideia que pode ser percepcionada como uma resolução natural para os problemas. Mas um Facebook em eventual queda suscita preocupação redobrada – basta imaginar o que pode ser a rede social a actuar em modo de pânico.

Digno de nota

- Os ciberataques em Portugal aumentaram no primeiro semestre do ano. Os picos coincidiram com os períodos de confinamento.

- O YouTube, uma das plataformas de eleição de negacionistas da ciência, vai remover todos os conteúdos que mintam ou lancem suspeitas infundadas sobre a eficácia e segurança de vacinas, sejam da covid-19 ou outras.

- O académico Arlindo Oliveira escreve sobre os "compromissos difíceis" na regulação que a União Europeia está a fazer na área da inteligência artificial.

4.0 é uma newsletter sobre inovação, tecnolgia e o futuro. Comentários e sugestões podem ser enviados para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.