Professores: Luz do mundo, salvação da humanidade

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rui gaudencio

É uma tese antiga que a “cruel pedagogia do vírus” tornou evidente: os professores são a luz para milhões de crianças e jovens e a salvação da humanidade. A pandemia tornou clara a centralidade dos professores na gestão das aprendizagens dos alunos, mesmo no ensino remoto de emergência. De um dia para o outro, ativaram novos dispositivos de interação e comunicação, geraram a esperança possível no meio de angústias e medos. Mesmo fechados em casa, e na diluição de fronteiras entre a casa e a escola, os professores, com o suporte das tecnologias, conseguiram o quase milagre de continuarmos juntos no aprender a conhecer, no aprender a fazer, no aprender a ser em circunstâncias dramáticas, conseguindo mesmo instituir alguma convivência a distância.

Como se sabe, a escola em casa não é a mesma coisa. A privação física dos outros, a clausura em espaços fechados, as distâncias e as máscaras obrigaram os professores a reinventar a sua profissão para conseguirem ver os rostos dos outros, ativar a chama do conhecimento que emancipa e liberta e o afeto que nos une, a relação que nos acalenta. São, seguramente, heróis nestes tempos que foram muito sombrios. Neste breve texto, seja-me permitido sublinhar as dimensões essenciais que sustentam a consistência da tese que aqui apresento.

1. A rapidez da resposta
De um dia para o outro, os professores e as lideranças das escolas conseguiram construir uma resposta de “ensino remoto” que chegou à grande maioria dos alunos. Não ignoramos os que ficaram ausentes, as dificuldades de acesso, a “quebra” da internet [que nos fez ver o quão desigual é este país no grau de cobertura eficiente da rede]. Mas esta determinação e esta ousadia, esta procura de respostas para um problema real é um sinal claro da dignidade de uma profissão que não desiste de construir futuro.

2. A mobilização de tecnologias escassamente conhecidas
Fechados em casa, alunos e professores tiveram de recorrer a tecnologias que não dominavam, mas dispuseram-se a rapidamente aprender. E esta é uma lição maior que importa reter: o que fez com quase dois milhões de portugueses se tivessem auto-determinado para continuar a assegurar as promessas de um conhecimento que nos une e liberta? Certamente, a lógica de compromisso profissional e social, o sentimento compassivo que nos obriga a resistir e a enfrentar as adversidades. Os slogans do “estamos on” e do “ninguém fica para trás” são isso: slogans que não correspondem à verdade. Mas são mais do que isso. São a afirmação de uma vontade de estar presente, de procurar as melhores respostas possíveis

3. A reinvenção da pedagogia
Nestes tempos recentes, os professores puderam ver a relevância da pedagogia. Porque não bastava ensinar, não bastava dar a matéria e cumprir o programa. Era preciso que os alunos, em contextos tão diversos, pudessem aprender o essencial. Este propósito fez descobrir que a missão central dos professores é justamente o fazer aprender o máximo possível a todos os alunos. E para isso têm de mobilizar estratégias diferentes, considerar ritmos de aprendizagem específicos, ativar tempos, recursos, desafios ativadores das vontades em risco de se alhearem.

4. Um modo de trabalho mais colaborativo
Sozinhos, os professores tiveram também a oportunidade de ver as vantagens da entreajuda profissional, seja no domínio das tecnologias, seja no domínio das pedagogias da implicação, da participação e da descoberta. E este é, também, uma aprendizagem que não pode ser esquecido no tempo pós-pandémico.

Neste tempo crítico, os professores, mais uma vez, justificam a afirmação de que são construtores de futuro para milhões de seres humanos. São o garante de um conhecimento que nos tem de unir e libertar. São a prova real da sua imprescindibilidade social na construção das redes de afetos e de relação humana. Por isso, merecem a nossa admiração, o nosso louvor e o nosso respeito.


O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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