Alterações climáticas

Apaixonados, mas à distância, para combater as chamas no oeste norte-americano

Enquanto Samsara, de sentinela no topo da sua montanha, percorre o horizonte à procura de fogos, o seu marido, Mark Duffey, está a cerca de 450 quilómetros de distância, preparado para saltar de pára-quedas de um avião e combater as chamas.

Reuters/BRITTANY HOSEA-SMALL
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Mesmo à saída da cabana com um quarto que lhe dá uma panorâmica de 360 graus do deserto de Montana, Samsara Duffey espreita através de um par de binóculos. À sua volta, as montanhas secas estão envoltas em fumo vindo das chamas a lavrar em Idaho e Oregon. Sob esse véu cinzento, as Montanhas Rochosas parecem místicas, quase etéreas.

De repente, Samsara concentra-se. Pensa ter visto uma nuvem de fumo a sair de uma árvore morta no vale em frente dela. Mas é falso alarme - uma ilusão causada pelos fogos florestais longínquos.

Durante os últimos 25 verões, Samsara isolou-se no deserto para trabalhar como vigia florestal, um trabalho aparentemente anacrónico de combate a incêndios que pouco depende da tecnologia actual e, em vez disso, baseia-se numa boa visão, no conhecimento do ambiente local e numa rara aptidão para a solidão extrema. Mas mesmo para Samsara, a aridez e névoa deste Verão no oeste norte-americano são duras.

Enquanto Samsara, uma sentinela solitária no topo da sua montanha, percorre o horizonte à procura de fogos, o seu marido, Mark Duffey, está a cerca de 450 quilómetros de distância, preparado para saltar de pára-quedas de um avião e combater as chamas. Faz parte de um esquadrão de elite de cerca de 320 bombeiros dos Serviços Florestais conhecidos como smokejumpers, bombeiros na linha da frente que se lançam de aviões para combater fogos florestais em locais remotos.

Quando o alarme na sua base no sul do Montana dispara, começa a preparar-se. Tem cerca de cinco minutos para vestir o seu macacão e equipamento - que pesa cerca de 36 quilos - e saltar para um avião. Ele e outros sete smokejumpers voam para um incêndio na Floresta Nacional de Shoshone, em Wyoming. Mark aterra num pasto de vacas, aproxima-se do fogo e escava uma vala na terra para tentar encurralá-lo.

Samsara não tem notícias de Mark durante várias horas. Mas nessa noite o telefone vibra com uma mensagem. Mark enviou uma fotografia de um lírio branco, delicado sobrevivente à margem do incêndio. A flor, embora bela, traz também uma mensagem importante: Mark terminou o trabalho dessa noite, e está a salvo. 

É assim que os Duffeys passam os verões: separados, sem se poderem ver durante semanas a fio, mas unidos na luta contra os cada vez piores incêndios florestais do oeste norte-americano.

No Verão de 2021, o fogo devastou 5,7 milhões de hectares dos Estados Unidos. Os incêndios florestais de Verão, alimentados pelas alterações climáticas, também deflagraram noutras partes do mundo, em países do Mediterrâneo e da Síria à Sibéria.

No oeste dos Estados Unidos, as alterações climáticas estão a aumentar as temperaturas e a seca agrava-se, ajudando a criar uma infernal época de incêndios este ano. Junho foi o mês mais quente de que há registo no país, com o Vale da Morte na Califórnia a torrar sob temperaturas de 54 graus Celsius, enquanto Julho foi o mês mais quente de que há registo no mundo. Durante décadas acumularam-se arbustos secos e árvores mortas facilmente inflamáveis. Os mega-incêndios, que queimam mais de 40 mil hectares, tornaram-se um novo normal em estados como a Califórnia.

Estes fenómenos extremos só se tornarão mais severos, alertou em Agosto o relatório do IPCC, afirmando que o aquecimento global está perto de fugir totalmente ao nosso controlo. Medidas imediatas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa poderiam travar parte do impacto do aquecimento global, mas as emissões mundiais desses gases - sobretudo dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis - ainda estão a aumentar.

As previsões são sinistras para bombeiros como Mark, com um trabalho árduo até nos melhores dias. Por cerca de 25 dólares (22 euros) por hora pode ser destacado para qualquer parte do país. Combate incêndios até a um limite de 16 horas, come comida desidratada e dorme sob uma tenda, e fá-lo repetidamente até 14 dias seguidos.

O burnout é uma preocupação constante. E o prolongamento da época de incêndios significa mais tempo de distância entre Mark e Samsara, que se reencontram na época baixa em casa, na cidade de West Yellowstone. Ela trabalha como guia de Inverno no Parque Nacional de Yellowstone, enquanto ele prepara pistas de esqui na Floresta Nacional de Gallatin.

"Nos primeiros tempos da minha carreira, tínhamos Julho, Agosto e Setembro para ganhar o nosso dinheiro para o ano", conta Mark, de 47 anos, de pé em frente ao cacifo sem portas onde está pendurado o seu equipamento, pronto a ser agarrado. "Estamos a começar mais cedo, em Maio, e a trabalhar até Outubro. Há fogos a lavrar em todo o lado."

A maioria dos fogos na área de Samsara é iniciada por relâmpagos, e não ateados pela mão humana. A nível nacional, no entanto, 84% dos incêndios com origem conhecida são provocados por humanos, de acordo com os dados de Karen Short, uma investigadora ambiental do Serviço Florestal. A queima de resíduos, fogo posto, o uso de material inflamável e os fogos de campismo são origens comuns. Mas os relâmpagos são cada vez mais frequentes à medida que a subida das temperaturas e o aumento da humidade dão gás às tempestades.

Reuters/BRITTANY HOSEA-SMALL
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