Verdes e liberais realçam “bom ambiente” na busca de “pontes” para um governo inédito na Alemanha

Líderes dos partidos que vão definir o futuro da governação alemã congratulam-se com os primeiros passos dados nas negociações bilaterais. Seguem-se agora reuniões separadas com SPD e CDU/CSU.

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Os ecologistas Robert Habeck (à esquerda) e Annalena Baerbock (ao centro), e o liberal Christian Lindner (à direita) falaram esta sexta-feira aos jornalistas sobre a segunda ronda de negociações exploratórias FILIP SINGER/EPA

A segunda ronda de negociações entre os líderes dos Verdes e do Partido Liberal Democrata (FDP), esta sexta-feira, em Berlim, terminou com sorrisos e a garantia de que, apesar das diferenças ideológicas entre os dois partidos, estão a ser feitos todos os esforços para se “construírem pontes”, tendo em vista a formação de um governo de coligação na Alemanha – seja com a companhia do Partido Social Democrata (SPD) ou da União Democrata Cristã (CDU/CSU).

“O processo [negocial] começou hoje num bom ambiente, mas ainda não acabou”, afirmou o líder dos liberais, Christian Lindner, à saída do encontro, citado pela Reuters. “Estamos a discutir como é que podemos ultrapassar aquilo que nos separa e que pontes podem ser construídas. Por agora, é tempo de encontrarmos essas pontes”.

As divergências programáticas são muitas. Enquanto os Verdes dão prioridade, por exemplo, a um enorme programa de investimento em energias renováveis, o FDP quer garantir que o próximo Governo não aumenta a dívida do país. Por outro lado, em comum têm a certeza de que é necessária uma política externa e europeia mais afirmativa, nomeadamente na gestão das relações com a China e com a Rússia.

“Construímos uma cultura de diálogo uns com os outros, que torna possível uma discussão factual”, sublinhou Robert Habeck, co-líder dos Verdes, ao lado da outra co-líder, Annalena Baerbock, e de Lindner. “Depois iremos ver que tipo de dinâmicas emergem nos próximos dias ou, talvez, semanas”, acrescentou.

Verdes (14,8%) e FDP (11,5%) foram, respectivamente, o terceiro e o quarto partido mais votado nas eleições federais alemãs disputadas no passado dia 26 de Setembro

Mas uma vez que nem o SPD (25,7%), de Olaf Scholz, nem a CDU/CSU (24,1%), de Armin Laschet (e da chanceler Angela Merkel), conseguiram a maioria dos votos e dos deputados no Bundestag (Parlamento), ecologistas e liberais são agora peças-chave no xadrez político alemão e na definição da próxima coligação de governo nacional – isto porque a renovação da “grande coligação” entre sociais-democratas e democratas-cristãos é uma hipótese que interessa a pouca gente.

Em cima da mesa, e apesar da ginástica programática que todos os envolvidos terão de fazer para conceber um programa de governo minimamente estável, há duas hipóteses de coligação mais plausíveis, que vão buscar os nomes às cores dos partidos: uma coligação “semáforo”, entre SPD (vermelho), Verdes (verde) e FDP (amarelo); ou uma coligação “Jamaica”, entre CDU/CSU (preto), Verdes e FDP.

Por causa das respectivas afinidades ideológicas, os ecologistas preferem a coligação com o SPD, ao passo que os liberais vêem com melhores olhos a solução que integra os democratas-cristãos.

Uma sondagem da Forschungsgruppe Wahlen para emissora ZDF divulgada esta sexta-feira confirma, porém, os sinais trazidos de outros inquéritos semelhantes: a maioria dos eleitores alemães (59%) prefere uma coligação “semáforo” e 76% dizem que gostariam de ver Olaf Scholz no cargo de chanceler da Alemanha.

Ainda assim, também nesta sexta-feira, o secretário-geral da CSU – o partido “irmão” da CDU, na Baviera – Markus Blume, argumentou que, apesar de os conservadores terem tido o pior resultado eleitoral da sua história e de terem ficado atrás do SPD, ao fim de 16 anos no poder, as probabilidades de haver uma coligação “Jamaica” são realistas. 

“‘Jamaica tem uma hipótese, ‘Jamaica’ é uma hipótese e ‘Jamaica’ também tem charme. Queremos fazer tudo o que pudermos para garantir que a oportunidade é aproveitada nas próximas discussões”, disse Blume.

Depois de dois encontros “positivos”, Verdes e FDP vão agora reunir, em separado, com os dois partidos mais votados das eleições. 

Os líderes do SPD encontram-se com os representantes dos ecologistas e dos liberais no domingo, o mesmo dia em que a CDU/CSU vai bater à porta do FDP. A reunião entre os Verdes e os democratas-cristãos está agendada para terça-feira da próxima semana.

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