As máscaras ainda não caíram no pequeno comércio

Na primeira manhã com novas regras, o bairro lisboeta de Campo de Ourique mostra-se igual ao que tem sido. Os clientes continuam a usar máscara, os comerciantes agradecem que assim seja.

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Diego Nery
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“Pode entrar, Maria José!”, grita a merceeira atrás do balcão ao ver a cliente hesitante. Sem perder um segundo, a mulher septuagenária serpenteia por entre caixas de frutas e legumes e acerca-se de Sónia Branco para lhe entregar um jornal da véspera. Recebe em troca uma revista de telenovelas.

“Eu tinha limite de um cliente porque o espaço é curto”, justifica a comerciante, de máscara grossa na cara a deixar apenas ver os olhos e a farta franja. A conversa decorre junto ao balcão e mais uma pessoa pára à porta sem saber se deve entrar. “Pode, pode”, assegura Sónia a uma cliente que começa a servir-se de maçãs.

Pelas dez e meia, Campo de Ourique ainda é um bairro que desperta. O muito comércio de rua que subsiste nesta freguesia lisboeta acaba de abrir as portas e não sabe o que o dia lhe reserva. A partir deste 1 de Outubro, o uso de máscaras deixa de ser obrigatório em lojas pequenas e a lotação máxima de clientes passa a ser o que o espaço comportar fisicamente.

“Achamos isto um pouco surreal”, desabafa Teresa numa loja do Jardim da Parada. No balcão mantém-se uma divisória de acrílico e as duas trabalhadoras conservam a máscara no rosto. “Esta loja tem imenso movimento, chega a estar completamente cheia. Eu vou continuar a usar máscara”, assegura Rita.

Entram as primeiras clientes da manhã, também com máscara, para espreitar mochilas, artigos de papelaria, artigos para bebé e outros produtos que esta loja vende. “Percebo que as pessoas estejam fartas, eu também estou, mas é uma falta de respeito para quem está a trabalhar”, opina ainda Rita, enquanto Teresa faz notar que “a circulação de ar não é boa” dentro do estabelecimento.

Para elas, não faz sentido acabar com as duas medidas ao mesmo tempo. Ou se eliminava a lotação reduzida e mantinha-se a obrigatoriedade de máscara ou o contrário. É o que também pensa Cristina Vicente, que gere uma pequena ourivesaria ali perto. “Acho que vou manter o aviso de lotação na porta”, ri-se a comerciante.

Uma volta rápida pelo bairro revela que a maioria dos clientes continua a usar máscara quando entra nas lojas. “Acho que as pessoas, por enquanto, ainda vão continuar a respeitar”, comenta Cristina Vicente. “Mas isto ainda é só o primeiro dia, daqui a um tempo logo se vê”, acrescenta. Sónia Branco, na sua mercearia, conta outra experiência, que envolve sobretudo os mais velhos: “Como já estão vacinados, já não é preciso a máscara. Muita gente não cumpria, tinha de ser chamada à atenção.”

Preocupações que não pesam a Albano, comerciante de peixe fresco e congelado no Mercado de Campo de Ourique. A sua loja tem porta para a rua – por onde os clientes podem entrar sem máscara – e porta para o mercado – por onde os clientes têm de entrar com máscara, por ser um espaço com mais de 400 metros quadrados. “Isto é só contradições”, atira o homem, sem se importar muito com o assunto. “O negócio é que é importante, agora a máscara…”

E o negócio, esse, já viu melhores dias. Na banca brilham robalos, peixes-espada, tamboris e outros pescados. É mau sinal. “Em tempos normais, o peixe que aí tenho já teria ido todo”, lamenta Albano, convicto de que a pandemia veio piorar definitivamente a já frágil situação dos mercados. “Isto já não volta a ser o que era. Houve muita gente que saiu daqui. Mais uns anitos e isto morre”, vaticina.

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