Após 30 anos, o Cinema Estúdio reabre para também ser casa de nichos musicais

A sala inaugurada em 1966 pelo Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo ganha nova vida para acolher cinema, música e teatro, acolhendo promotoras de música independentes e companhias de teatro da cidade como a Seiva Trupe.

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André Puertas Oliveira

“Sem cedências ao que é fácil”, será a linha da programação seguida pelos responsáveis pela agenda do renovado cinema Estúdio, encerrado há quase trinta anos. Quem o diz é o programador Carlos Martins, que desenhou o projecto cultural da nova face desta sala inaugurada em 1966 na Rua de Costa Cabral, dentro do Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que actualmente está a trabalhar numa nova estratégia para os próximos anos.

Este é o primeiro passo de outros que se seguirão. O cinema regressará ao edifício desenhado por Luís Cunha (1933-2019), arquitecto que, a par de Álvaro Siza, conseguiu nota vinte na Escola de Belas-Artes do Porto. Mas, já a partir de dia 1 de Outubro, o espaço com capacidade para 400 pessoas, agora designado por Sala Estúdio Perpétuo, abrir-se-á também a outras propostas culturais - música, teatro ou performances.

O Porto recupera assim mais uma sala de cinema de rua, somando-se ao Trindade, ao Passos Manuel (também bar e sala de concertos), e ao Batalha, ainda em obras, e ganha mais um espaço multidisciplinar, mas desta vez numa zona da cidade onde a oferta cultural não abunda.

Se as políticas culturais são pensadas para um país ou para uma cidade porque é que não podem ser pensadas para um bairro? Esta questão foi um dos pontos de partida para Carlos Martins pensar a linha programática da sala, que pretende contar com a sociedade civil para desenhá-la. A resposta já está a ser dada desde o momento em que o responsável pela programação convidou algumas promotoras independentes da cidade a participar na construção da agenda. No caso da música, estarão disponíveis para colaborar a Lovers & Lollypops, a Amplificasom ou a Saliva Diva, que já no próximo fim-de-semana levam ao terraço do espaço Daniel Catarino e os Fugly, no sábado, e os Conferência Inferno e os Baleia Baleia Baleia, no domingo.

O cinema continuará a ser um dos motivos para rumar à sala escondida no miolo do edifício em forma de barco. Além de reposições de clássicos - a marcar a reabertura estará O Garoto de Charlot, de Charlie Chaplin, e Ladrões de bicicletas, de Vittorio de Sica - existirão parcerias com festivais nacionais, nomeadamente com o O Festival Internacional de Curtas de Vila do Conde, Porto/Post/Doc ou Indie Lisboa. Já no teatro, está neste momento em preparação um projecto com a Seiva Trupe, desenvolvido em exclusivo para a Sala Estúdio. 

Encerrada, mas não abandonada

A sala esteve estes anos todos encerrada ao público, mas não ficou abandonada. O espaço foi sendo usado pela escola do Perpétuo como auditório para apresentações de cariz mais privado. Será por isso que não foi necessário um grande investimento financeiro para o reabrir, à excepção de algum equipamento adquirido. 

A direcção do centro quis devolver o equipamento à cidade, como parte de uma estratégia de redefinição futura da entidade da instituição, que passará por alargar o plano curricular dos cursos de que dispõem no mesmo edifício. Aproveitando as potencialidades que advêm da reabertura do Estúdio, pretendem oferecer aos alunos, mais possibilidades, alargando a “médio-longo prazo” a oferta formativa centrada agora nas áreas da saúde, da educação e da informática a outras áreas como os novos media ou outras ferramentas digitais. 

Sublinhe-se que este novo projecto contará com oficinas e ateliers nas áreas da literatura, das artes performativas e do audiovisual. Também contará com uma sala de trabalho aberta a entidades culturais e artistas que não disponham de um espaço para trabalhar.

Nessa situação está a Orquestra Filarmónica Portuguesa, que na sexta-feira - Dia Mundial da Música - fará a reabertura oficial da sala, com um concerto comentado a revisitar algumas bandas sonoras de filmes.

Por agora, está em programação uma agenda até Março. Programação essa, que será, sempre que possível, a “preços baixos” ou até mesmo a custo zero. Também estará patente no Perpétuo, após a reabertura, uma exposição que percorrerá a história do edifício e do cinema. 

O cinema Estúdio atingiu o seu auge na década de 70 do século passado, numa altura em que nos vários cinemas de rua da cidade se faziam filas para comprar bilhetes. Anos antes, em 1966, a sala foi construída para servir as alunas da sede da instituição, mas ao mesmo tempo para servir de fonte de rendimento, numa altura em que o Coliseu do Porto conseguia esgotar os 3 mil lugares com a projecção de um filme.

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