Macron pede à Europa para não “ser ingénua” depois de assinar pacto de defesa com a Grécia

Acordo entre Atenas e Paris acontece semanas depois do anúncio da parceria de defesa entre os EUA, o Reino Unido e Austrália. O Presidente francês reforçou a necessidade de a Europa ter capacidade para se proteger e defender os seus interesses.

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O Presidente francês encontrou-se com o primeiro-ministro grego no Eliseu, em Paris POOL/Reuters

A França e a Grécia anunciaram esta terça-feira um pacto de defesa no valor de mil milhões de euros para comprar navios militares franceses. Aproveitando o anúncio da “parceria” para “aumentar e intensificar a cooperação” entre os dois países, Emmanuel Macron viu uma oportunidade para reforçar a ideia de que “os europeus têm de parar de ser ingénuos” no que diz respeito à defesa dos seus interesses e ao investimento na sua própria capacidade militar.

Foi em Paris que o chefe de Estado francês e o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, anunciaram uma parceria de segurança estratégica e defesa. O acordo deverá incluir o compromisso grego para comprar navios de guerra franceses no valor de três mil milhões de euros e uma cláusula que prevê a assistência de defesa mútua, segundo os responsáveis gregos.

A parceria com a Grécia acontece no rescaldo do acordo de segurança entre Austrália, o Reino Unido e os EUA (AUKUS), que a França viu como uma “facada nas costas. O acordo levou Camberra a cancelar uma parceira com a França de 50 mil milhões de euros para a renovação dos submarinos da Austrália, decisão recebida com fortes críticas de Paris, que considerou ser uma “traição” entre aliados.

Este acordo com Atenas deverá basear-se num outro anterior para a compra de aviões militares franceses e possibilita à Grécia comprar mais navios militares no futuro – o valor do acordo pode ultrapassar os cinco mil milhões de euros.

Macron aproveitou o anúncio para insistir na necessidade da cooperação militar na Europa. “Estamos a ser pressionados por outros países, que por vezes assumem uma postura mais severa. Precisamos de reagir e mostrar que temos o poder e a capacidade de nos defendermos. Não para escalar as situações, mas para nos protegermos”, argumentou Macron, numa conferência de imprensa com o primeiro-ministro grego.

“Não é uma alternativa à aliança com os EUA”, nem uma “substituição”, continuou a explicar Macron. Porém, é uma forma “de assumir a responsabilidade do pilar europeu dentro da NATO e de sermos responsáveis pela nossa própria protecção”, acrescentou.

Os analistas rapidamente correlacionaram o AUKUS com o anúncio desta terça-feira. Faithon Karaiosifidis, especialista em defesa e editor da revista grega Flight, disse que “a França está a apostar tudo na Grécia e pode chegar-se à frente para apresentar este argumento da cooperação na defesa e coesão como a base da integração de defesa europeia e o início de um Exército europeu”, citou o Politico.

“Isto abre a porta para uma Europa de amanhã que é forte e autónoma, capaz de defender os seus interesses”, disse Mitsotakis, acrescentando que os “laços” entre os dois países vão persistir “durante décadas”.

Atenas tem procurado actualizar a sua frota com a compra de mais navios e modernização dos que já possui. No ano passado, essa necessidade tornou-se mais premente com a tensão crescente no Mar Egeu entre a Grécia e a Turquia.

Questionado sobre a possibilidade de o acordo reanimar tensões no Leste do Mediterrâneo, Macron disse que a parceria não se direcciona a conter um país específico, mas à Grécia, uma vez que a fronteira externa da União Europeia precisa de ser protegida.

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