PCP diz que é a terceira força política e justifica perdas com pandemia e campanha anticomunista

Perante as notícias de que a CDU foi uma das derrotadas deste domingo, João Oliveira, membro do comité central e líder parlamentar, sentiu necessidade de fazer a leitura dos números pelos óculos do PCP. Outros partidos puseram como objectivo ser terceiros e ficaram longe, lembra.

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João Oliveira também reagiu aos resultados autárquicos da CDU Daniel Rocha

Passada a ressaca da noite de domingo, em que o património autárquico da CDU sofreu mais uma machadada nas presidências de câmara, com a redução de um quinto, de 24 para 19, incluindo a de Loures, João Oliveira, membro da comissão política do PCP e líder parlamentar comunista, veio esta segunda-feira vincar que a CDU continua a ser a terceira força política autárquica - objectivo a que outros se propuseram e não atingiram - e que representa mais de 450 mil votos e 9,1% da votação.

Apesar desta análise do líder parlamentar, o comité central do PCP reúne-se nesta terça e quarta-feiras para analisar os resultados das eleições e a situação política nacional.

A noite de domingo não foi fácil e o facto de Jerónimo de Sousa ter falado aos jornalistas muito cedo - foi o primeiro líder a reagir aos resultados -, quando ainda nem um terço dos concelhos estavam apurados, levou a que a CDU rapidamente ficasse com o carimbo da derrota pesada. E ainda nem sequer era pública a queda de Loures e das históricas (desde 1976) Mora ou Montemor-o-Novo.

Agora, entre os valores das votações para as câmaras municipais, as assembleias municipais e as assembleias de freguesia, João Oliveira pega nas que são mais favoráveis à CDU - mesmo que isso implique olhar para as juntas de freguesia em vez das câmaras municipais - para argumentar sobre a força política da coligação liderada pelo PCP e que integra o PEV - Partido Ecologista Os Verdes e a ID - Intervenção Democrática.

Criticando a comunicação social pela “linha de menorização da CDU” que “não tem correspondência com a realidade dos resultados eleitorais”, Oliveira propõe-se fazer uma “leitura mais objectiva”. E admite “perdas”, mas também uma “valorização da votação da CDU”, cuja verdadeira dimensão inclui 452 mil votos para as juntas de freguesia (9,08%) e até agora 1443 eleitos, entre os quais 112 presidentes de junta. Haverá ainda uma dezena de assembleias de freguesia cujos resultados foram reclamados e só serão conhecidos no final da semana.

Na nota de duas páginas enviada pelo PCP às redacções, João Oliveira não se refere aos números das votações nas câmaras e das assembleias, ligeiramente mais baixos. São 19 presidências de municípios, onze delas em maioria absoluta e um total de 147 eleitos (com 410.577 votos representando 8,21%). Para as assembleias municipais, a CDU elegeu 498 representantes (430.947 votos; 8,56%).

“A confirmação da CDU como terceira força mais votada, como a grande força de esquerda no Poder Local, é um resultado que tem de ser valorizado, ainda que cirurgicamente seja apagado na comunicação social”, vinca, acrescentando haver uma “insistente e despropositada mediatização de outras forças políticas que esgrimiram esse objectivo não o alcançando” – numa referência ao Chega.

“Não iludindo a perda de sete municípios (Alvito, Alpiarça, Loures, Moita, Montemor-o-Novo, Mora e Vila Viçosa) nem a conquista de dois outros (Barrancos e Viana do Alentejo), o resultado da CDU fica marcado pela obtenção de maiorias em 19 municípios, incluindo as duas capitais de distrito - Évora e Setúbal -, pela confirmação de posições em importantes câmaras municipais (Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Viana do Castelo entre outras), bem como pela conquista de novas posições em órgãos municipais onde há muito isso não acontecia”, descreve João Oliveira.

O dirigente comunista repete a mesma ideia que Jerónimo de Sousa deixara na noite eleitoral de 2017, quando perdeu dez câmaras e avisou que “muitos vão ter saudade da CDU” a liderar os seus concelhos. João Oliveira realça que a leitura dos resultados das autárquicas “não pode ficar circunscrita, como alguns pretendem, à apreciação dessas posições de maioria”, para defender a importância dos casos de eleitos únicos em muitos executivos.

Na busca de justificações para a redução da votação da CDU, o líder parlamentar fala da epidemia (que reduziu o contacto de proximidade e o envolvimento da população nas acções de campanha), da “prolongada e intensa campanha anticomunista visando, com recurso à mentira e à manipulação, atingir a reconhecida e distintiva seriedade dos eleitos da CDU”.

A que soma a “desfocagem da natureza e objectivos destas eleições, esbatendo o seu carácter local e a distinção entre os vários programas (…) induzindo a uma decisão em função de critérios de política nacional”, assim como a “descarada promoção dada a outras forças políticas” e os “factores locais específicos de cada freguesia e concelho”.

João Oliveira ataca também a ideia de que a direita, incluindo os “projectos retrógrados e antidemocráticos” - leia-se, o Chega -, tiveram uma “adesão e crescimento imparável”.

“Sem subestimar as maiorias obtidas em algumas autarquias mais emblemáticas, a verdade é que a votação de PSD e CDS é inferior em 1,5 pontos percentuais à obtida em 2017 (passando de 32,4% para 30,9%). O Chega, que beneficia de parte significativa da quebra destes dois partidos, fica como quinta força eleitoral, longe da propalada ambição de se constituir como terceira força.” E salienta que em Moura, onde André Ventura concorria à Assembleia da Municipal, a CDU “esteve a escassos 90 votos de recuperar a autarquia”, negando assim a ideia da fuga de votos da CDU para o Chega.

O dirigente comunista afirma ainda que os independentes – “as falsamente designadas listas de independentes” – ficaram ao nível de 2017, que o PS perdeu um conjunto de autarquias (em particular Lisboa, Coimbra e Funchal), e que o Bloco, “que já em 2017 era de expressão residual” nas autarquias, teve uma “perda significativa de posições” de 12 para quatro vereadores em todo o país.

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