Autárquicas nos Açores reforçam ascensão da direita e queda do PS

No final da noite, Bolieiro, presidente do PSD-Açores e do governo regional, afirmou que o resultado dá mais estabilidade governativa ao executivo. PS passou de 12 para nove câmaras, as mesmas de PSD e CDS-PP, que estão juntos no governo.

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Bolieiro defendeu que resultados das autárquicas conferem maior "estabilidade governativa" às ilhas açorianas LUSA/EDUARDO COSTA

Os resultados autárquicos ainda não estavam todos apurados e já uma imensidão de gente tinha invadido a sede do PSD-Açores, em Ponta Delgada. O clima era de festa: gritava-se por vitória, havia tambores que abafavam qualquer ruído e toda a gente erguia as bandeiras laranjas do partido.

A euforia era justificada. Dificilmente a noite poderia ter corrido melhor para a direita açoriana. Nos Açores, as eleições autárquicas foram também encaradas como o primeiro desafio eleitoral da coligação que suporta o governo regional, formada por PSD, CDS-PP, PPM. Partidos que, em Outubro de 2020, se juntaram ao Chega e à IL para afastar do poder o PS, que tinha ficado em primeiro nas regionais daquele ano.

Agora, no fim da noite eleitoral autárquica, a direita junta conseguiu igualar o número de câmaras do PS. Os socialistas partiram para a eleição com 12 das 19 autarquias do arquipélago. Só conseguiram ficar com nove: perderam a Horta, a Praia da Vitória, São Roque do Pico e Santa Cruz da Graciosa. Venceram Vila do Porto, em Santa Maria.

“Reconheço que o projecto político que governa os Açores e as forças políticas que o apoiam no parlamento ganharam também estabilidade governativa. Saíram reforçados”, reconheceu o próprio José Manuel Bolieiro, líder do PSD açoriano e do executivo regional, na reacção aos resultados. 

Naquela festa eleitoral social-democrata, a euforia continha também um sentimento de surpresa. Ninguém esperava conquistar tanto terreno ao PS na primeira eleição. O PSD, que partiu com cinco câmaras, roubou quatro e perdeu um município para o PS - os tais já referenciados acima. O PSD reforça assim o número de câmaras: passa de cinco para oito.

Nessas contas, os sociais-democratas conseguiram conquistar dois bastiões socialistas, que são também duas cidades (factor importante nos Açores): Horta e Praia da Vitória.

A Horta é um peão importante no xadrez político açoriano, onde o equilíbrio de forças entre as ilhas é fundamental para assegurar a estabilidade. É uma das três cidades que acolhe o poder político regional - a presidência do governo está em Ponta Delgada, o Representante da República está em Angra do Heroísmo e o parlamento açoriano está na Horta. A cereja no topo do bolo é que a cidade da ilha do Faial estava no reduto socialista há 32 anos. Coube ao social-democrata Carlos Ferreira a tarefa de impedir que José Leonardo partisse para um terceiro mandato.

A vitória na cidade da Praia de Vitória é igualmente importante, uma vez que permite aos sociais-democratas ganharem força na segunda maior ilha do arquipélago, a Terceira, onde o outro município, Angra do Heroísmo, é do PS. Vânia Ferreira, uma deputada desconhecida da política regional, derrotou Berto Messias, um dos pesos pesados do PS na região (apontado como putativo futuro líder regional), que avançou para a candidatura depois de problemas entre a estrutura local com o até aqui presidente Tibério Dinis.

O PSD assegurou também a câmara de Ponta Delgada, um bastião social-democrata que só não foi ‘laranja’ entre 1989 e 1993. Em 2017, foi Bolieiro, actual presidente do governo regional, quem ganhou as eleições. Agora, o novo presidente é Pedro Nascimento Cabral, que até aqui liderou a bancada na Assembleia Regional.

Um independente apoiado pelo PSD como fiel da balança

Indo então a contas. O PS, que controlava de forma clara o poder autárquico na região, fica agora com nove câmaras: Corvo, Lajes das Flores, Santa Cruz das Flores, Lajes do Pico, Angra do Heroísmo, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação e Vila do Porto.

O PSD fica com oito: São Roque, Madalena, Horta, Ponta Delgada, Ribeira Grande, Nordeste, Praia da Vitória, Santa Cruz da Graciosa. O parceiro da coligação, o CDS-PP, manteve a sua autarquia: Velas, em São Jorge. Ou seja: dá empate – nove contra nove.

Resta o autarca independente da Calheta, em São Jorge, Décio Pereira. Um candidato que até foi apoiado pelo PS em 2017, mas que em 2021 teve o apoio do PSD. O PS este ano apresentou candidato próprio à autarquia. Uma jogada que pode sair cara: com o apoio de Décio Pereira, a direita poderá somar a maioria das câmaras na região e conquistar a Associação de Municípios dos Açores.

Em 1996, quando existiu uma mudança de poder na região, com a eleição de Carlos César, o PS só conquistou a Associação de Municípios 13 anos depois. Agora, Bolieiro pode repetir o feito em apenas um ano.

Os resultados autárquicos têm sempre em conta as realidades locais, mas é possível fazer uma leitura regional. A ascensão da direita e a queda do PS, que já tinha tido acontecido nas eleições regionais, confirmam a mudança de ciclo político nos Açores.

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