Evergrande confirma dificuldades e falha pagamento de juros

Empresa chinesa não pagou esta quinta-feira os 71 milhões de euros em juros que estavam previstos, dando início a sequência de incumprimentos com consequências ainda incertas para a economia mundial.

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Reuters/ALY SONG

Aquilo que já há uma semana se temia confirmou-se esta quinta-feira: a gigante imobiliária chinesa Evergrande falhou o prazo previsto para o pagamento de juros de um dos seus títulos de dívida, acentuando o clima de tensão que se vive actualmente nos mercados financeiros.

A Evergrande tinha de pagar, até ao final de quinta-feira, 83,5 milhões de dólares (cerca de 71 milhões de euros) correspondentes aos juros de um título obrigacionista de dois mil milhões de dólares. É apenas uma pequena parte das suas dívidas totais, de cerca de 260 mil milhões de euros, mas a empresa, uma das maiores do mundo no sector imobiliário, a braços com uma severa falta de liquidez, não conseguiu fazer face a este compromisso. 

Tem agora o prazo de um mês para o fazer, caso contrário será declarada oficialmente uma situação de default.

A Evergrande adoptou nos últimos anos, à semelhança de outras empresas do sector imobiliário chinês, uma estratégia de pedir emprestado para construir. No entanto, recentemente, os sinais de esgotamento do potencial de crescimento do mercado imobiliário na China e as medidas de restrição no acesso ao crédito impostas pelas autoridades do país colocaram a empresa numa situação insustentável

A Evergrande tem, ao longo das próximas semanas, diversos pagamentos de juros e amortizações de dívida para fazer e a expectativa de novos incumprimentos é agora extremamente elevada, especialmente no que diz respeito à dívida colocada junto de investidores estrangeiros.

Até agora, as autoridades chinesas têm mantido um silêncio quase total em relação à situação da Evergrande, sendo apenas dados sinais de que podem querer evitar perdas significativas para os investidores de retalho domésticos e para os fornecedores da empresa, algo que teria o potencial de gerar descontentamento numa parte significativa da população e contagiar o resto da economia. Para tentar evitar um aumento da instabilidade do sector financeiro chinês, o banco central tem também vindo nos últimos dias a reforçar as suas injecções de liquidez.

Nos mercados internacionais, a semana que agora termina foi de perdas acentuadas, antecipando já um cenário de incumprimento no pagamento das suas dívidas por parte da Evergrande. Mantém-se contudo a incerteza em relação à dimensão do contágio que pode resultar do colapso da empresa. Vários analistas têm recusado a ideia de que se possa estar perante um cenário semelhante ao vivido em 2008 com a falência do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, em que as perdas sentidas pelos credores do banco conduziram a que estes, por sua vez, entrassem em incumprimento com os seus credores, num efeito de dominó que colocou toda a economia mundial em crise. 

Ainda assim, existe a preocupação de que os problemas da Evergrande sejam o ponto de partida para uma fase de forte abrandamento na China, que nos últimos anos tem sido o principal motor de crescimento da economia mundial.

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