Teatrão em Coimbra vai passar a ter espectáculos acessíveis a cegos

A peça de teatro Aldebarã, da Terra Amarela, que é apresentada no sábado, pelas 21h30, será o primeiro de 15 a 20 espectáculos que a Oficina Municipal do Teatro irá ter durante a temporada 2021/2022 com audiodescrição.

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São esperados cerca de 15 cegos e respectivas famílias, no sábado, para assistirem ao espectáculo PAULO PIMENTA

A Oficina Municipal do Teatro (OMT), em Coimbra, vai ter pela primeira vez no sábado audiodescrição para espectadores cegos e com baixa visão, a par da Língua Gestual Portuguesa, serviço que já oferecia, anunciou O Teatrão.

A peça de teatro Aldebarã, da Terra Amarela, que é apresentada no sábado, pelas 21h30, será o primeiro de 15 a 20 espectáculos que a OMT irá ter durante a temporada 2021/2022 com audiodescrição, permitindo o acesso à cultura de cegos e de pessoas com baixa visão, afirmou à agência Lusa a directora da companhia O Teatrão, Isabel Craveiro.

No sábado, também haverá interpretação do espectáculo em Língua Gestual Portuguesa, algo já recorrente na OMT face a uma parceria com “alguns anos” com o curso da Escola Superior de Educação de Coimbra, acrescentou.

“Foi necessário adquirir uma cabine de audiodescrição [com apoio da Direcção-Geral das Artes], que permite que, durante o espectáculo, seja feita ao vivo a “tradução”, para que os cegos e pessoas de baixa visão, que terão fones, possam ouvir a descrição do que está a acontecer”, explicou.

Segundo Isabel Craveiro, a companhia espera receber cerca de 15 cegos e respectivas famílias, no sábado, para assistirem ao espectáculo. “Para a grande maioria, vai ser o primeiro espectáculo de teatro que vão ver na vida”, realçou.

Para além da audiodescrição, os cegos serão também guiados, antes de o espectáculo começar, pelo espaço cénico, para perceberem a dimensão do espaço e os detalhes de cenografia. Os audiodescritores que irão assegurar o serviço são de Lisboa e têm acesso prévio ao texto e à gravação do espectáculo, referiu.

Isabel Craveiro notou que não há qualquer audiodescritor na região Centro, considerando que seria importante agentes culturais e municípios trabalharem em rede no sentido de assegurarem uma pessoa, com formação na área, para garantir a acessibilidade de pessoas cegas e com baixa visão a espectáculos na região. “Vamos tentar perceber como é que isso se faz e estimular também essa procura, para que se possa justificar esse investimento de alguém, porque era importante haver essa oferta”, salientou.

Esta medida de inclusão surge também do projecto A Meu Ver, que O Teatrão desenvolve em parceria com a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

Nesse projecto de três anos, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e La Caixa, O Teatrão trabalha com dois grupos, com 17 cegos e pessoas com baixa visão, e prevê a criação de três espectáculos originais, o primeiro dos quais a estrear em 2022, no Dia Mundial do Teatro, 27 de Março.

No sábado, para além do espectáculo, vai também decorrer o seminário “Acesso Cultural e criação artística participativa: Em que ponto estamos?”, às 15h00.

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