Açores: quando o independente agrada a gregos e troianos

Rui Rio e António Costa estão esta quinta-feira nos Açores em campanha. Os líderes procuram votos num território com particularidades. O independente que se recandidata na Calheta teve o apoio do PS em 2017 e agora do PSD.

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EDUARDO COSTA

Em quatro anos, muita coisa pode mudar. Em período eleitoral autárquico, emergem várias histórias de candidatos que mudam de camisola partidária, mas também existem casos em que é o próprio partido a decidir alterar o apoio ao recandidato de um ato eleitoral para o outro.

No meio do atlântico, há um independente que tem coleccionado apoios em campos apostos. O actual presidente da Câmara Municipal da Calheta, na ilha de São Jorge, nos Açores, recandidata-se a um terceiro mandato à frente da autarquia e diz sentir-se um “privilegiado”. Afinal, é o único autarca que se pode gabar de ter no currículo o apoio de dois presidentes do governo açoriano de partidos diferentes: um do PS, outro do PSD.

“Sinto-me uma pessoa privilegiada. Não acredito que haja muitos presidentes de Câmara que tenham o apoio de dois presidentes do governo: um da esquerda, outro da direita, não é fácil”, afirmou o independente ao PÚBLICO.

Décio Pereira encabeça o movimento ‘Dar Vida ao Concelho’ que conta com o apoio do PSD para as eleições autárquicas de Setembro. Numa eleição a dois, vai a votos contra o candidato do PS, Dário Ambrósio. Mas se o PS é o adversário nas eleições deste ano, há quatro anos a história foi diferente. Nas autárquicas de 2017, o PS apoiou a candidatura de Décio Pereira, enquanto o PSD apresentou um candidato próprio.

Em quatro anos, o apoio mudou de cor, mas certas coisas permaneceram inalteráveis. Às vezes é preciso mudar para que fique tudo na mesma. Nas últimas duas eleições, o movimento independente de Décio Pereira teve sempre o apoio do partido do presidente do governo dos Açores. Em 2017, foi de Vasco Cordeiro, socialista, que ainda lidera o PS na região. Em 2021, cabe a Bolieiro, líder do executivo açoriano de coligação PSD, CDS-PP, PPM e presidente do PSD-Açores, apoiar a recandidatura.

“Se calhar é um pouco contraditório para os partidos responderem [sobre o apoio], mas para mim não é. Isso é um sinal de que o senhor Vasco Cordeiro e o senhor José Manuel Bolieiro, reconhecem o trabalho que tem sido feito na autarquia calhetense”, afirmou Décio Pereira, referindo, contudo, que as ajudas partidárias são “secundárias”: “cada partido é que é responsável pelas opções que toma”, conclui.

O candidato tem motivos para estar confiante. Nada prevê que falhe a reeleição. Teve 62,55% dos votos (quatro mandatos) nas últimas eleições. Em segundo, ficou um outro movimento independente que alcançou 15,38% (um mandato). Mesmo com o PS fora da corrida, o PSD só obteve 14,10% dos votos para o município da Calheta em 2017. Analisadas as contas, talvez esses resultados ajudem a explicar a mudança de posição dos sociais-democratas. Veremos agora se o PS é capaz de fazer melhor.

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