Porque sentimos desconforto nas pernas à noite?

Apesar de parecer um problema relativamente inócuo, quando não é tratado, os sintomas podem tornar-se mais frequentes e graves, com impacto muito negativo no bem-estar.

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Lucrezia Carnelos/Unsplash

Habitualmente sente desconforto nas pernas e, por vezes, nos braços, associado a um desejo forte de mover esses membros? Poderá ser sinal de Síndrome de Pernas Inquietas.

Esta sensação desagradável é percebida como nascendo do interior dos membros afectados e descrita de várias formas, como uma dormência, um ardor, formigueiro, um incómodo ou até uma sensação eléctrica. Habitualmente, faz-se sentir depois de algum tempo de repouso, quando se está deitado ou sentado num ambiente calmo, surgindo frequentemente à noite. Os sintomas vão-se intensificando, conseguindo-se algum alívio com o movimento (por exemplo, caminhar, mexer ou esticar as pernas). Devido à necessidade de movimentar as pernas com frequência, algumas tarefas tornam-se quase impossíveis, entre elas, fazer longas viagens, assistir a sessões de cinema ou outros espectáculos.

É uma doença frequente na população geral, afectando homens e mulheres, mas as formas graves são mais comuns no sexo feminino. Pode surgir em qualquer idade, sendo que na maior parte das vezes começa a manifestar-se na fase de adulto jovem. Os sintomas e evolução da doença são muito variáveis de pessoa para pessoa, tendendo a agravar com a idade.

Existe uma predisposição familiar para o seu desenvolvimento, o que significa que a doença pode passar de geração em geração. Todavia, ainda se desconhece porque é que algumas pessoas desenvolvem a doença e outras não. Alguns factores não genéticos também têm um importante papel no desenvolvimento desta condição, nomeadamente a gravidez, anemia, doenças renais ou hepáticas, diabetes, como efeito secundário de determinados medicamentos ou substâncias estimulantes (como a cafeína, nicotina e álcool) ou secundária a determinadas alterações neurológicas de nervos periféricos ou doenças do sistema nervoso central.

O diagnóstico é feito com base no questionário médico, que visa explorar e perceber os sintomas, e na observação do doente, não sendo necessário nenhum exame clínico complementar. Contudo, nem sempre é um diagnóstico simples e ocasionalmente para excluir outras possibilidades, pode ser necessário um estudo do sono.

Apesar de não haver nenhum medicamento curativo, ou seja, que faça a doença desaparecer, a boa notícia é que o tratamento com o medicamento adequado é extremamente eficaz, ajudando a controlar os sintomas. Nos casos em que se identificam causas secundárias, introduzir alterações no estilo de vida também podem ser necessárias.

Muitas vezes a doença não é reconhecida ou valorizada, o que implica que algumas pessoas têm a doença sem saber, convivem com os sintomas durante um longo período de tempo e esperam anos até procurar ajuda médica especializada. Noutras situações, apesar de reconhecida, é diagnosticada incorrectamente, sendo frequentemente ignorada pelos médicos ou confundida com outras situações de saúde como a ansiedade, insónia, depressão, má circulação, veias varicosas, problemas da coluna, e tratada incorrectamente.

Apesar de parecer um problema relativamente inócuo, quando não é tratado, os sintomas podem tornar-se mais frequentes e graves, com impacto muito negativo no bem-estar. A doença afecta directamente a qualidade e quantidade do sono e do descanso, pois as sensações surgem frequentemente no final do dia quando a pessoa está em repouso ou a tentar dormir. Como resultado, as pessoas afectadas apresentam dificuldade na concentração e cansaço durante o dia e outras desenvolvem depressão, ansiedade ou outros problemas de saúde. Assim, se suspeitar que pode ter síndrome de pernas inquietas, deve procurar ajuda médica especializada, de preferência num Centro de Medicina do Sono.

A 23 de Setembro assinala-se o Dia da Consciencialização da Síndrome de Pernas Inquietas, servindo esta data para sensibilizar a população em geral e a comunidade médica para uma doença crónica ainda pouco conhecida. Foi a 23 de Setembro de 1907 que nasceu Karl-Axel Ekbom, o neurologista sueco a quem se deve a primeira descrição clínica detalhada desta doença, em 1945.

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