Serviços bancários digitais quase não chegam à população mais idosa

Nível de inclusão financeira dos portugueses é elevada, mas continua verificar-se uma percentagem elevada de excluídos, especialmente nos serviços digitais.

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Andreia Patriarca

A maioria da população portuguesa, mais precisamente cerca de 70%, apresenta o nível mais elevado de inclusão financeira, ou seja, não só têm acesso a serviços bancários básicos, como utilizam com regularidade a conta de depósito à ordem e têm outros produtos financeiros, com destaque para os depósitos a prazo (41,6%) e os cartões de crédito (36,2%).

Mas quando se avalia a inclusão pelo lado da inclusão financeira digital, como utilização de canais digitais (homebanking ou apps) para aceder às contas, ou a outros produtos e serviços, em que o sistema financeiro está a apostar cada vez mais, o retrato já não é tão positivo.

Segundo o relatório publicado esta quinta-feira pelo Banco de Portugal sobre Inclusão Financeira e Digital e Escolha de Produtos Bancários em Portugal, a partir de dados recolhidos em 2020, quase metade dos entrevistados utiliza os canais digitais, mas “existem diferenças significativas entre as várias faixas etárias”. Assim, “nas pessoas com idades entre 25 e 39 anos, 74,7% dos entrevistados utilizam canais digitais, percentagem que desce para 8,1% nos entrevistados com 70 ou mais anos”, adianta o Banco de Portugal, em comunicado. 

Realizado a partir do 3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, uma das conclusões do relatório é a “significativa percentagem de entrevistados que sabe que existe a conta de serviços mínimos bancários (50,9%)” e “mais de um quinto (23%) sabe que esta conta existe e que a condição de acesso é ter uma única conta de depósitos à ordem no sistema bancário, o que representa um forte aumento face a 2015 (4,9%) e 2010 (1,4%)”. 

Entre outros dados, destaca-se a preocupação de poupança da maioria dos portugueses, “com cerca de 60% dos inquiridos a afirmarem fazer poupança, em linha com os resultados obtidos em 2015 (59%) e acima dos de 2010 (52%)”.

E a principal razão para poupar é fazer face a despesas imprevistas (49,8% dos entrevistados), ou para despesas futuras não regulares, como férias ou viagens (15,4%), para pagar a educação e ajudar os filhos (14%) ou para a reforma (9,5%).

Ainda de acordo com o comunicado do BdP, “três quartos dos entrevistados que contratam empréstimos referem ler a informação pré-contratual e contratual”, e a leitura desta informação é referida por cerca de 72% dos inquiridos que contratam depósitos a prazo.

No entanto, o conselho do colaborador da instituição ao balcão é a fonte de informação referida por 63,9% dos entrevistados na contratação de empréstimos e por 41,4% dos entrevistados na contratação de depósitos a prazo. 

Quanto à compreensão de conceitos financeiros, os entrevistados revelam fragilidades em descrever os conceitos de Euribor e de spread.

Como seria de esperar, “os entrevistados com maiores níveis de escolaridade e de rendimento apresentam os melhores resultados no índice de literacia financeira global, e os jovens demonstram níveis mais elevados do que os seniores com 70 anos ou mais”.

“Os trabalhadores apresentam melhor desempenho do que os desempregados, enquanto as mulheres têm, em geral, resultados aquém” dos apresentados pelos homens, adianta o BdP. 

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