Nível do mar continua a subir a ritmo alarmante

Programa Copernicus divulga esta quarta-feira o quinto relatório sobre sobre os estado dos oceanos com um dramático balanço dos efeitos do aquecimento global e derretimento de gelo na Terra.

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A extensão do gelo marinho do Árctico tem vindo constantemente a diminuir REUTERS/Nick Cobbing/Greenpeace

O nível dos oceanos continua a subir, a um ritmo alarmante de 3,1 milímetros por ano, devido ao aquecimento global e ao derretimento do gelo na Terra, revelou hoje o Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus. A extensão do gelo marinho do Árctico tem vindo constantemente a diminuir. Entre 1979 e 2020 perdeu o equivalente a seis vezes o tamanho da Alemanha, de acordo com o relatório dos especialistas divulgado esta quarta-feira.

A extrema variação entre períodos de frio e ondas de calor no Mar do Norte está relacionada com mudanças na captura de linguado, lagosta europeia, robalo, salmonete e caranguejos. A poluição causada pelas actividades em terra, como a agricultura e a indústria, está a ter impacto nos ecossistemas marinhos, reforçaram os especialistas na quinta edição do relatório sobre o estado dos oceanos.

O aquecimento dos oceanos e o aumento de salinidade intensificaram-se no Mediterrâneo, na última década. “Estima-se que o aquecimento do oceano Árctico contribua com quase 4% para o aquecimento global dos oceanos”, lê-se no relatório. Mais de 150 cientistas, de cerca de 30 instituições europeias, colaboraram no trabalho. De acordo com as conclusões, o oceano está a passar por “mudanças sem precedentes”, o que terá “um enorme impacto” no bem-estar humano e nos ambientes marinhos.

“As temperaturas da superfície e subsuperfície do mar estão a aumentar em todo o mundo e os níveis do mar continuam a subir a taxas alarmantes: 2,5 mm por ano no Mediterrâneo e até 3,1 mm por ano globalmente”, escreveram os peritos. O documento é apresentado como uma referência para a comunidade científica, decisores e público, em geral.

A combinação destes factores pode causar “eventos extremos” em áreas mais vulneráveis, como Veneza, onde em 2019 uma subida do nível das águas fora do comum, uma forte maré e condições climatéricas extremas na região provocaram a chamada “Acqua Alta” - quando o nível da água subiu para um máximo de 1,89 metros. “Este foi o nível de água mais alto registado desde 1966 e mais de 50% da cidade foi inundada”, recordaram os autores do documento.

Os cientistas explicaram também que a poluição por nutrientes, oriundos de actividades terrestres, como agricultura e a indústria, tem “um efeito devastador na qualidade da água” do oceano. Através da eutrofização, o aumento do crescimento das plantas pode levar à redução dos níveis de oxigénio na água do mar e até mesmo bloquear a luz natural, “com efeitos potencialmente graves” nos ambientes costeiros e na biodiversidade marinha. No Mar Negro, por exemplo, a percentagem de oxigénio tem diminuído desde o início das medições, em 1955.

O aquecimento da água do mar faz com que algumas espécies de peixes migrem para águas mais frias, levando à introdução de espécies não nativas num determinado habitat, como aconteceu em 2019 quando o peixe-leão migrou do Canal do Suez para o Mar Jónico, devido ao aumento das temperaturas na Bacia do Mediterrâneo. Segundo o relatório, o gelo marinho do Árctico continua muito abaixo da média e diminui “a um ritmo alarmante”.

Nos últimos 30 anos, o gelo marinho do Árctico diminuiu continuamente em extensão e espessura. Desde 1979, a cobertura de gelo em Setembro reduziu 12,89% por década, com mínimos recordes nos últimos dois anos. A perda contínua do gelo marinho do Árctico pode contribuir para o aquecimento regional, a erosão das costas árcticas e as mudanças nos padrões climáticos globais.

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