Estudo mostra que só um terço dos futebolistas planeia o pós-carreira

Trabalho realizado pela Universidade de Bruxelas revela grande incerteza na hora de deixar os relvados, deixando alerta à indústria do futebol. FIFPro quer jogadores mais preparados para enfrentar final de carreira.

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Reuters/TONY OBRIEN

A FIFPro, Federação Internacional das Associações de Futebolistas Profissionais, divulgou esta segunda-feira um estudo encomendado à Universidade de Bruxelas sobre os desafios que os jogadores de futebol enfrentam quando terminam a carreira, deixando um alerta às diversas organizações envolvidas no fenómeno para a necessidade de encontrar formas de apoiar os atletas na transição para uma nova carreira, tanto em matéria de planeamento sócio-económico, como a nível de saúde mental. 

De acordo com o estudo da Universidade de Bruxelas, no âmbito da campanha “Mind the Gap”, realizado num universo de 282 futebolistas de 33 países - tanto no activo como retirados -, é notória a ausência de um planeamento eficaz e mais abrangente, como se percebe pelos números recolhidos, com dois em cada três futebolistas a revelarem total incerteza em relação ao futuro profissional depois do final da carreira. 

Apenas um terço dos inquiridos manifestou confiança em relação ao que o futuro lhes reserva, sendo que 18% não sabem o que esperar. Metade da “amostra” refere ter uma ideia ou algumas pistas e interesses sobre o que fazer depois do futebol, sendo que em muitos casos o final da carreira pode ser precipitado por uma lesão, o que exige uma maior preparação para atenuar o impacto, tanto financeiro quanto emocional.

Um problema enfatizado pelo secretário-geral da FIFPro, que considera o estudo uma verdadeira chamada de atenção para o problema. “Este estudo é um despertar para a indústria do futebol no que diz respeito ao que é preciso fazer para ajudar a preparar as novas gerações de futebolistas, homens e mulheres, de forma a poderem estar mais bem preparados para enfrentarem o momento em que deixam de jogar”, referiu Jonas Baer-Hoffmann, salientando os sacrifícios feitos desde muito jovens pelos futebolistas.

​“A carreira exigiu-lhes muitos sacrifícios na juventude, de forma a tornarem-se profissionais. E a indústria do futebol tem que fazer mais para apoiá-los no processo final e no pós-carreira. E não se pense que se trata apenas de questões monetárias. A saúde mental e o bem-estar é um factor essencial”, destacou, enaltecendo o trabalho realizado por muitas associações.

Perante o cenário traçado pelo estudo, em que apenas um terço dos futebolistas profissionais já retirados pensou e acautelou antecipadamente (pelo menos a três anos do “adeus") o momento da “retirada”, tendo um em cada cinco iniciado o processo logo desde o início da carreira e apenas 12% depois de sofrerem uma lesão grave, o grande objectivo da FIFPro passa pela mobilização das organizações, sejam clubes (21%), federações (7%) ou instituições de ensino (19%), de forma a criarem as condições necessárias para que os futebolistas possam antecipar de uma forma sustentada o início de uma nova fase profissional.

Os números divulgados indicam que as associações são os principais responsáveis (em cerca de 70% dos casos analisados) pelo apoio prestado aos futebolistas, tendo mais de metade dos jogadores (54%) que participaram no estudo declarado não ter recebido qualquer tipo de ajuda, tanto no aspecto psicológico como na formação complementar em termos académicos.

Em países como a Austrália, a Dinamarca e a Inglaterra existem convénios entre associações, ligas e federações no sentido de criar um fundo com verbas dos jogos destinado a apoiar e desenvolver formas de ajuda aos jogadores. Nos últimos dois anos, a campanha “Mind the Gap” conseguiu verbas para expandir os centros de apoio em países como Chipre, Finlândia, Grécia, Irlanda e Suécia. 

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