O PAN pelas ruas dos Olivais contra a cidade Sim City

Manhã preenchida para Manuela Gonzaga, que tenta levar o partido para a Câmara de Lisboa com críticas de autismo ao executivo de Fernando Medina. Num mercado, é o nome de outro autarca que vem à baila.

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Manuela Gonzaga percorreu os Olivais LUSA/RODRIGO ANTUNES

Mas afinal qual é a rotunda? O ponto de encontro para a acção de campanha do PAN esta sexta-feira de manhã nos Olivais confundiu até os membros da caravana, que se perderam entre as rotundas da Av. Marechal Gomes da Costa até acertarem. A correcta era a do topo, onde a junta de freguesia local (socialista) colocou um cartaz a dizer que os Olivais são “o verdadeiro jardim de Lisboa”.

Uma afirmação que as candidatas à Câmara de Lisboa e à Junta dos Olivais do Pessoas-Animais-Natureza se esforçaram por desmentir durante uma grande volta pela freguesia. Da ciclovia mal feita às árvores abatidas, do mercado degradado ao pombal sem pombos, Manuela Gonzaga e Sílvia Vicente não poupam críticas ao(s) executivo(s) do PS, acusados de decidirem tudo sem ouvir as pessoas.

“Ninguém quer saber das reais necessidades da cidade. Querem brincar sozinhos? Comprem um jogo de computador, como o Sim City. Na vida real não brinquem com a vida das pessoas”, pede a cabeça-de-lista à autarquia, Manuela Gonzaga, que procura levar o PAN à vereação pela primeira vez.

Junto à novíssima ciclovia da Marechal Gomes da Costa, que ocupou uma via de circulação e está separada dos automóveis por uma baia de betão, as candidatas apontam erros de concepção e defendem que a melhor solução seria “desviá-la para dentro das zonas residenciais”, o que, no seu entender, traria vantagens para todos. “Esta ciclovia já criou um grupinho de ódio às bicicletas. Uma coisa que devia ser positiva”, insurge-se Sílvia Vicente.

“Isto é quase tão mau como a da Almirante Reis”, comenta Gonzaga, encontrando paralelismos entre ambas. “As ciclovias são importantíssimas, mas mais importantíssimo é que as pessoas que planeiam saiam dos seus gabinetes e venham falar com as pessoas. Saiam das vossas torres de betão, ou de marfim, ou seja lá o que for. Não faz sentido um executivo governar como se estivesse numa nave interplanetária.”

É por estas e por outras que a candidata do PAN tem calafrios quando ouve falar de regionalização. “Tenho verdadeiramente pavor do que pode acontecer. Há bolsas de ditadura no poder autárquico.”

A caminho do Mercado de Olivais Sul, um homem abre a janela do carro para gritar “Chega!” e Manuela Gonzaga responde com gargalhadas: “Já chega, já! Já chega de tantos disparates!”

Pouco depois é a revolta dos comerciantes do mercado que lhe toma a atenção. “Isto não parece um mercado, é uma barraca”, atira uma vendedora de frutas e legumes enquanto arranja feijão-verde. O rol de queixas: chove lá dentro, a tinta solta-se das paredes, existe um telhado de fibrocimento, as bancas fecham e não são reocupadas. As obras estão prometidas há vários anos, mas por aqui poucos acreditam nelas.

E a conversa resvala para um concelho vizinho. “Chamam-lhe gatuno, esteve preso, mas o que o Isaltino Morais fez por Oeiras mais ninguém faz”, declara um homem que está pouco disponível para ouvir a comitiva. Manuela Gonzaga ainda tenta convencê-lo de que os políticos não são todos iguais, mas acaba por afastar-se. “Isto dá dó. Quem está no poder gosta muito destas vozes. Esta revolta é muito justa, mas é preciso que as pessoas dêem o passo em frente e percebam que só a sua participação pode mudar as coisas.”

Próxima paragem: pombal contraceptivo dos Olivais. Também aqui se repetem críticas de que falta diálogo. “Não consultaram ninguém, fizeram o que bem entenderam”, acusa Antonieta Moellón, da Plataforma Cívica Unidos pelos Pombos, que aponta vários erros à estrutura – um grande cubo de madeira elevado a metro e meio do chão. “Os pombais têm de ser espaçosos e este é muito estreito, não há condições para os pombos nidificarem.”

Além disso, aponta, falta comida para atrair os animais. “Como é que se espera que os pombos venham só com um saco de milho por mês?”, questiona-se. Estes erros acontecem, acredita a activista, porque “não há muita gente que goste de pombos na câmara.” Manuela Gonzaga anui: “O PAN denunciou a captura de 7200 pombos e ainda não tivemos qualquer resposta sobre o seu destino.”

De seguida a caravana desloca-se até ao local onde existiu durante anos o bar Avião, agora ocupado por um parque infantil com vista para o aeroporto e para a Segunda Circular. As árvores são escassas, as sombras inexistentes. “Isto é o pior parque infantil que eu já vi. Nem no Saara seria assim”, indigna-se a candidata. Que ainda manifestaria incredulidade uma vez mais, no Jardim Maria de Lourdes Sá Teixeira, onde em 2019 foram abatidas 27 árvores: “Não se faz isto em nenhuma capital do mundo civilizado.”

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