Ministro da Justiça do Haiti demitido pelo primeiro-ministro, suspeito de assassinar Moïse

Sucedem-se as demissões no Executivo haitiano por causa das investigações sobre o potencial envolvimento do primeiro-ministro no assassínio do Presidente.

Foto
Ariel Henry foi nomeado primeiro-ministro poucos dias antes de Jovenel Moïse ser assassinado RICARDO ARDUENGO / Reuters

O primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, suspeito pelo assassínio do Presidente Jovenel Moïse, demitiu o seu ministro da Justiça, aprofundando a crise política vivida no país.

Poucos dias depois da abertura de uma investigação contra si, Henry substituiu Rockfeller Vincent pelo ministro do Interior, Liszt Quitel, que passa a acumular as duas pastas, segundo a Reuters. Esta semana, o chefe de Governo já tinha afastado o comissário do Governo, equivalente a um procurador-geral, Bed-Ford Claude, que tinha pedido a abertura de um inquérito sobre a eventual participação do primeiro-ministro no assassínio de Moïse.

Em causa estão registos telefónicos que mostram que Henry esteve em contacto com o principal suspeito de ter orquestrado o magnicídio logo após a morte de Moïse. Na madrugada de 7 de Julho, um grupo de homens fortemente armados entrou na residência privada do Presidente haitiano num subúrbio de Port-au-Prince para assassinar Moïse.

As investigações posteriores começaram a apontar na direcção do primeiro-ministro, que havia sido nomeado por Moïse para chefiar o Governo poucos dias antes da sua morte, numa altura de elevada tensão política.

Henry assistiu também à demissão do secretário-geral do Conselho de Ministros, Renald Lubérice, que acusou o primeiro-ministro de não querer cooperar com as investigações. “Não posso permanecer na Secretaria-Geral do Conselho de Ministros sob a direcção de uma pessoa nomeada por Jovenel Moïse, que foi acusada pelo seu assassínio, e que não tem intenção de cooperar com a justiça”, afirmou Lubérice na carta em que apresentou a demissão.

O primeiro-ministro tem negado qualquer participação no assassínio de Moïse, mas nunca justificou publicamente as chamadas entre si e o cabecilha da operação. No fim-de-semana passado disse que as suspeitas acerca do seu envolvimento não passam de “manobras de distracção” e prometeu encontrar os “verdadeiros culpados” pelo crime.

A polícia deteve duas dezenas de elementos pertencentes a um comando armado responsável pelo assassínio de Moïse. Entre eles há pelo menos 18 colombianos que chegaram a pertencer ao Exército do seu país e dois haitianos com dupla nacionalidade norte-americana.

Os mercenários colombianos escreveram esta semana uma carta ao Presidente colombiano, Iván Duque, para denunciar abusos cometidos contra si pela polícia haitiana e acusando-a de uso de força desproporcional.

A morte traumática de Moïse deixou a já frágil situação política no Haiti em terreno desconhecido. O país das Caraíbas não conseguiu realizar eleições em 2019 por causa de um impasse político entre os principais partidos e, desde então, o Presidente governava por decreto, aprofundando ainda mais o vácuo deixado pela sua morte. O sismo no mês passado, agravado pela passagem de uma tempestade tropical, responsável por mais de dois mil mortos, tornam a situação vivida actualmente no Haiti ainda mais dramática.

Durante o fim-de-semana, o primeiro-ministro anunciou ter alcançado um acordo político com os principais partidos para que seja nomeado um Governo de transição para governar o país até novas eleições.

No entanto, na terça-feira, o presidente do Senado, Joseph Lambert, que já tinha tentado assumir a presidência logo após a morte de Moïse, tentou organizar uma cerimónia de tomada de posse no Parlamento, mas o acto foi interrompido por uma troca de tiros. 

Sugerir correcção
Comentar