Ginástica

Simone Biles: “Um sistema inteiro permitiu e perpetrou” abusos sexuais contra ela e centenas de ginastas

Numa audiência perante o Comité Judicial do Senado dos EUA, a ginasta e campeã olímpica Simone Biles fez um discurso emotivo onde culpou a federação de ginástica norte-americana e “todo o sistema” por permitir que Larry Nassar, médico da equipa nacional durante 20 anos, abusasse sexualmente dela e de centenas de outras ginastas. Aos 24 anos, a principal ginasta norte-americana foi clara em alargar as culpas à USA Gymnastics, ao Comité Olímpico e ao Paralímpico do país, que “sabiam que estava a sofrer abusos por parte do médico da equipa”.

Em Agosto, Simone Biles surpreendeu o mundo quando desisitiu de disputar várias finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio, justificando a decisão com fragilidade psicológica.  Em 2018, a atleta havia revelado que também ela tinha sido alvo de abusos sexuais por parte do antigo médico da selecção de ginástica dos Estados Unidos.

Biles é uma dos quatro atletas, juntamente com McKayla Maroney, Aly Raisman e Maggie Nichols, que testemunhou no Comité Judicial do Senado dos EUA, onde decorre uma investigação ao gabinete do FBI de Indianápolis, onde se situa a sede da USA Gymnastics, e à sua resposta inadequada às denúncias contra Nassar. Um relatório interno do Departamento de Justiça relevou, em Julho, erros graves no seio do FBI que levaram a que a investigação ficasse parada mais de oito meses. Quando esse documento de 119 páginas foi tornado público, um grupo de senadores avançou com uma audiência para investigar a resposta do FBI e para corrigir erros institucionais.

Na sua intervenção, a ginasta olímpica McKayla Maroney disse que se sentiu traída pelos agentes do FBI, por não investigarem o ex-médico de ginástica dos EUA, apesar dos seus relatos de abuso sexual.

"Na verdade, ele revelou ser mais pedófilo do que médico", afirmou perante o Comité.

Larry Nassar usou a sua posição como médico para abusar de pelo menos 330 jovens, incluindo menores e atletas olímpicas. Actualmente cumpre uma pena de 40 a 175 anos pelo cúmulo desses crimes e outra de 60 anos por pornografia infantil, ou seja, uma pena de prisão perpétua de facto. A condenação foi proferida entre Dezembro de 2017 e Fevereiro de 2018, coincidindo com o início do movimento #MeToo nos Estados Unidos.