Na semana passada o PÚBLICO acompanhou, em Lisboa, a maior conferência mundial sobre utilização da bicicleta em contexto urbano, a Velo-city. Falou-se muito do uso dos velocípedes, é claro, mas em praticamente todos os debates – e foram dezenas, em quatro dias – estava bem presente o papel deste veículo para uma mobilidade mais sustentável, pelos menores impactos ao nível das emissões, do ruído, da sinistralidade e, ainda, da ocupação do espaço público. Na sua cidade peões e ciclistas têm boas condições para circular ou são cidadãos de segunda? Em Delft, têm o mesmo direito à rua, com benefícios para todos, como nos explica o casal Chris e Melissa Bruntlett num livro publicado este Verão.

Há várias ferramentas para melhorar o ambiente nas cidades. Sem qualquer laivo de romantismo e sem quererem que todos passem a usá-la, decisores políticos, activistas e académicos de várias partes do mundo insistem em dizer-nos que a bicicleta é uma delas. E, a esse propósito, é interessante ver como enquanto o ocidente oscila entre a consciência de que é um problema ter mais carros no espaço urbano e uma adesão quase sem discussão ao carro eléctrico, em Quelimane, Moçambique, o autarca local tenta convencer, pelo exemplo, os seus conterrâneos a manterem a pedalada. “Não precisamos de cometer os mesmos erros que outras cidades cometeram”, lembrava Manuel Araújo, o presidente ciclista da capital moçambicana da bicicleta.

Em Moçambique, como noutros países, a bicicleta é vista ainda como um veículo de pessoas pobres. Subir o elevador social ainda implica, para muitos, ter um carro, mas se nalguns países em desenvolvimento o automóvel, pelas suas características e capacidade, é um veículo com natural espaço na mobilidade quotidiana, no "Ocidente", depender menos dele pode ser uma solução para inúmeros problemas colectivos, incluindo o da nossa gula por mais e mais energia.

Um inquérito recente dava conta de que uma percentagem importante de pessoas em países desenvolvidos se mostrava disponível para “várias mudanças” nas suas vidas, por causa da crise climática. Largar o carro e fazer a pé ou em duas rodas os trajectos mais curtos, perto de casa, pode ser um começo – e é mais fácil do que às vezes imaginamos. E numa altura em que outras notícias dão conta de um desespero sobre o futuro, entre os mais jovens, o prazer que pedalar oferece a quem já o faz todos os dias, pode servir de antídoto ou, pelo menos, de lenitivo, até pela forma como muda a nossa perspectiva sobre os lugares, e sobre o nosso papel na mudança que urge levar a cabo.

Agora que o Verão termina e retomamos o ritmo normal, daqui a duas semanas regressamos com os Pés na Terra. Até lá, sugiro-lhe outras leituras.