Menos de 3,5% das pessoas em África estão vacinadas contra a covid-19

O valor foi avançado durante uma conferência da OMS, a propósito do acesso justo às vacinas contra a covid-19. A OMS acusa o “resto do mundo” de se esquecer de África.

Foto
OMS diz que falar em "passaportes de vacinas" não faz sentido sem ter toda a gente imunizada Sumaya Hisham/Reuters

Ao todo, menos de 3,5% das pessoas a viver no continente africano já foram vacinadas contra a covid-19. Por esta altura, o número deveria rondar os 60%. Os números foram avançados por John Nkengasong, director dos Centros Africanos de Controlo de Doenças, na tarde desta terça-feira. Nkengasong foi um dos participantes de mais uma conferência de imprensa organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a propósito do acesso justo às vacinas contra a covid-19. 

Durante a sessão, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, voltou a acusar os países desenvolvidos de ignorarem o problema da pandemia em África. “[Os países africanos] foram deixadas para trás pelo resto do mundo”, criticou.

O objectivo da OMS é que todos os países tenham, pelo menos, 40% da população vacinada até ao final do ano. "Apenas dois países em África atingiram a meta de 40% [de pessoas vacinadas], a mais baixa de qualquer região. Isto não se deve ao facto de os países africanos não terem capacidade ou experiência para administrar as vacinas”, informou o director-geral da OMS.

Em Junho, os líderes do G7 prometeram cerca de mil milhões de vacinas contra a covid-19 aos países mais pobres, mas até agora menos de 15% dessa quantidade se materializou. 

Apenas 2% das doses de vacinas administradas em todo o mundo foram dadas em África. “Isto deixa as pessoas mais expostas a risco de doença e morte de um vírus mortal”, alertou o líder da OMS. Foi para evitar esta situação que, em 2020, a OMS criou a iniciativa Covax para juntar recursos para a compra de vacinas para países mais pobres. Segundo a OMS, até agora esta iniciativa já enviou mais de 260 milhões de doses para 141 países.

“Mas como sabem, a Covax também enfrentou vários desafios, com os fabricantes a darem prioridade a acordos bilaterais e muitos países de elevado rendimento a condicionarem o fornecimento global de vacinas”, explicou Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Problema no acesso à vacinação pode ser resolvido

A OMS acredita que o problema no acesso à vacinação em África pode ser resolvido. Para tal, os fabricantes de vacinas e os países com elevadas taxas de imunização contra a covid-19 devem partilhar informação, recursos e conhecimento com a Covax e a AVAT (Fundo de Aquisição de Vacinas da União Africana).

“Apelamos a todos os países e fabricantes para que partilhem informações sobre acordos bilaterais com Covax e a AVAT para que compreendamos onde as vacinas são mais necessárias”, apelou o director-geral da OMS. 

Sem ter todos os países com a maioria dos cidadãos vacinados, não faz sentido discutir “passaportes de vacinas" (equivalente ao certificado digital em Portugal). A OMS não apoia a utilização de “passaportes de vacinas" como um pré-requisito para viajar.

"Não queremos que os passaportes sejam utilizados como um pré-requisito para as vacinas”, notou o director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante uma conferência de imprensa, ao começo da tarde, a propósito do acesso justo às vacinas contra a covid-19 no continente africano.”[Actualmente] seriam uma ferramenta para discriminar”, argumentou o líder da OMS. Não será assim para sempre: “No futuro, quando a cobertura das vacinas aumentar globalmente, [o passaporte de vacinas] pode ser considerado.”

A opinião é partilhada por John Nkengasong: “Queremos garantir, primeiro, que todas as pessoas foram vacinadas.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários