ONU angariou mil milhões de dólares para ajudar os afegãos nas “horas mais difíceis”

Além de pedir o apoio internacional, as Nações Unidas apelaram aos taliban para permitirem o livre acesso às agências humanitárias, garantia que foi dada por escrito esta segunda-feira.

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O secretário-geral da ONU fala à imprensa sobre a crise no Afeganistão, em Genebra SALVATORE DI NOLFI/EPA

As Nações Unidas apelaram à comunidade internacional para estender “uma bóia de salvação” aos afegãos nas “horas mais difíceis” que o país enfrenta. Para isso a ONU anunciou querer angariar mais de 600 milhões de dólares para responder à crise no Afeganistão durante a conferência desta segunda-feira em Genebra, que reuniu responsáveis da ONU, organizações humanitárias e representantes de países doadores. No final do encontro, foram doados mais de mil milhões de dólares (mais de 845 milhões de euros).

Na abertura da conferência, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que “as pessoas do Afeganistão estão a assistir ao colapso de um país inteiro”. Descrevendo a situação, Guterres disse que “um em cada três afegãos” não sabe quando será a sua próxima refeição, a taxa de pobreza disparou e os serviços básicos públicos estão perto do colapso”. Além disso, “centenas de milhares de pessoas foram forçadas a fugir das suas casas”, “muitas pessoas podem ficar sem comida no final deste mês”, somando-se à crise económica uma seca severa.

Segundo as estimativas da ONU, seriam necessários cerca de 606 milhões de dólares (mais de 510 milhões de euros) até Dezembro para levar a “ajuda humanitária vital” a milhões de afegãos e evitar que a situação no país, onde 18,4 milhões de pessoas já precisam urgentemente de assistência, se agrave de forma significativa. O apelo tinha sido lançado no início da conferência.

Mas as expectativas acabaram por ser superadas “por completo”. Embora Guterres não tenha especificado que valor será gerido pela ONU e que parte chegará através de outros meios e quando, o secretário-geral das Nações Unidas não escondeu a satisfação perante “a solidariedade para com o povo afegão”.

Cerca de um terço do montante pretendido será utilizado no âmbito do Programa Alimentar Mundial (PAM). “Estamos literalmente a implorar e a pedir empréstimos para evitar que as reservas de bens alimentares se esgotem”, disse à Reuters Anthea Webb, vice-directora regional do PAM.

Também foi pedido aos taliban que dessem livre acesso aos trabalhadores humanitários. Essa garantia foi dada por escrito pelo grupo fundamentalista islâmico, que se comprometeu também a respeitar os direitos das mulheres, das minorias e da liberdade de expressão, disse na conferência Martin Griffiths, secretário-geral adjunto para os Assuntos Humanitários da ONU.

Falta de garantias

Contudo, muitos países não confiam nas promessas dos taliban e questionam como será usado o dinheiro recolhido com os taliban no poder. Também há dúvidas se as sanções da ONU e dos EUA podem travar o fluxo do apoio humanitário –​ as organizações não-governamentais querem garantias de que não estarão sujeitas a multas por parte do Departamento do Tesouro dos EUA, por se considerar que estão a ajudar instituições ligadas aos taliban. 

Enquanto isso, a Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, reforçou no Conselho dos Direitos Humanos a sua crítica e preocupação em relação à escalada da crise humanitária e da violação dos direitos humanos no Afeganistão, alertando que o país está a entrar numa nova e perigosa fase.

Bachelet está desapontada com as restrições impostas às mulheres afegãs e a repressão contra as vozes dissidentes e as minorias, especialmente porque contradizem as promessas do grupo. Ao contrário das “garantias de que os taliban iriam respeitar os direitos das mulheres, nas últimas três semanas, as mulheres têm sido progressivamente excluídas da esfera pública”, nomeadamente no Governo, disse. 

Apelou, por isso, a todos os Estados para usarem “a sua influência junto dos taliban para exigir o respeito pelos direitos humanos, com especial atenção para as mulheres e raparigas e os membros de minorias étnicas e religiosas”, e a criação de um mecanismo de investigação para monitorizar a crise no país.

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