Novak Djokovic passou da pressão da vitória ao alívio

O sérvio esteve perto de cometer um feito inédito há 52 anos, mas foi Daniil Medvedev que sorriu por último.

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Novak Djokovic EPA/JUSTIN LANE

A grande época protagonizada por Novak Djokovic conduziu-o, no domingo, a um momento inédito numa carreira repleta de sucessos: ganhar a final do Open dos EUA para tornar-se no primeiro tenista desde 1969 a vencer os quatro torneios do Grand Slam no mesmo ano e a conquistar um inédito 21.º título em majors. Só que a tensão acumulada até ao dia decisivo revelou-se demasiada para o campeão do Open da Austrália, Roland Garros e Wimbledon, que teve pela frente um Daniil Medvedev física e mentalmente pronto para conquistar o seu primeiro grande título.

“Passei mais horas no court que Daniil, mas estes últimos cinco, seis meses foram também emocionalmente muito exigentes. Grand Slams, Jogos Olímpicos e jogar em casa no ATP de Belgrado. Todas as emoções por que tenho passado se acumularam aqui”, explicou Djokovic, autor de 38 erros não forçados – mais sete que o russo, que pratica um ténis de alto risco.

“Estive abaixo do meu nível, as minhas pernas não estavam lá, cometi muitos erros, praticamente não tive serviço. Quando se defronta alguém como Medvedev que coloca a bola tão bem, faz ases, ganha muitos pontos de borla com o primeiro serviço, estamos sempre sob pressão”, explicou ainda. Quando questionado sobre o que sentiu quando se sentou na cadeira, após a derrota por 6-4, 6-4 e 6-4, Djokovic foi claro: “Alívio.”

O sérvio não perdia um encontro à melhor de cinco sets sem ganhar uma partida desde 2010 – frente a Tomas Berdych, em Wimbledon – mas ainda sentiu uma réstia de esperança, quando, no terceiro set, reduziu para 4-5. Os adeptos no Arthur Ashe Stadium levantaram-se a ovacioná-lo, Djokovic sorriu e as lágrimas apareceram.

“Parte de mim está muito triste. Esta derrota é muito dura de engolir, tendo em conta tudo o que estava em jogo. Mas, por outro lado, senti algo que nunca tinha sentido aqui em Nova Iorque. O público fez-me sentir muito especial, surpreendeu-me agradavelmente. Não esperava nada, mas o apoio, a energia e o amor que recebi do público é uma coisa que irei lembrar-me para sempre. Foi por isso, que na troca de campo, comecei a chorar; a emoção, a energia, foram tão fortes. Sinceramente, tocaram-me no coração. Foi maravilhoso”, confessou o número um do ranking mundial.

Depois de duas derrotas nas finais do Open dos EUA, em 2019, e do Open da Austrália, em Janeiro, Medvedev sabia que teria de abordar este major com uma mentalidade mais ambiciosa e com mais energia. Apoiado no serviço, com o qual ganhou 64 de um total de 99 pontos, o russo aplicou o plano de jogo delineado, jogando para o centro para dar ângulos a Djokovic e também mostrou ter pernas e coração nos pontos mais longos.

Só no final, Medvedev acusou alguma tensão, não colocando o primeiro serviço e cometendo duplas-faltas, mas soube alternativas para ganhar os derradeiros pontos, até deixar-se cair no court, numa celebração inesperada, conhecida por “dead fish”, inspirada no videojogo FIFA.

Original foi também a forma como desafiou os jornalistas após o triunfo: “Vamos lá fazer uma conferência de imprensa interessante.”

O segundo tenista nascido nos anos 90 a conquistar um major em singulares masculinos admitiu que estava a sentir cãibras na parte final do encontro devido à tensão do momento e também que, ao contrário dos 10 minutos habituais, levou meia-hora a planear a táctica com o treinador, Gilles Cervara.

“Porque sempre que nos defrontámos foi diferente, porque ele é tão bom que muda a táctica e a sua abordagem. Talvez ele hoje não estivesse no seu melhor, por causa da pressão. Eu também tive muita pressão, porque arrisquei muito no segundo serviço. Estive bem por causa da confiança que tive nos momentos mais tensos”, afirmou Medevedev, que terminou o Open dos EUA, com somente um set cedido; nos quartos-de-final, diante de uma das revelações deste histórico Open dos EUA, o holandês Botic van de Zandschulp.

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