Ana Maria Vieira de Almeida: uma condecoração e um prémio bianual em nome da pedagoga

O Presidente da República condecorou a título póstumo a fundadora do colégio A Torre, numa cerimónia onde foi apresentado o prémio no valor de 20 mil euros a atribuir a autores de trabalhos de investigação em modelos inovadores na área da educação infantil, pré-primária e primária.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

O Presidente da República condecorou na passada quinta-feira, a título póstumo, a pedagoga Ana Maria Vieira de Almeida com a Ordem da Instrução Pública, pela sua dedicação “à educação para a liberdade e para a democracia em Portugal”.

Ana Maria Vieira de Almeida, fundadora da escola A Torre, em Lisboa, em 1970, como alternativa ao sistema de ensino em vigor, que morreu em 7 de Janeiro deste ano, foi homenageada com o lançamento de um livro e de um prémio com o seu nome, instituído pela Fundação Vasco Vieira de Almeida, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, no dia em que completaria 87 anos.

O chefe de Estado encerrou a sessão de homenagem, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com um discurso em que elogiou o percurso de Ana Maria Vieira de Almeida e do seu marido, o advogado Vasco Vieira de Almeida, considerando que viveram “um amor ao serviço dos outros, sempre”, recuando ao período da ditadura.

“Como saberão, eu vinha do outro hemisfério da sociedade portuguesa, o que me permitiu acompanhar o percurso do Vasco e da Ana Maria com a proximidade possível, mas com a distância inevitável, e admirar a forma como se dedicaram no seu amor aos outros”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, destacando a sua acção “na resistência à ditadura, sem distinção de pessoas, de áreas, de sectores, de grupos, naturalmente começando naqueles que mais resistiam e que mais eram perseguidos - e isso o fizeram décadas a fio”.

Segundo o Presidente da República, “para compreender a democracia portuguesa, é importante compreender percursos como este, porque esses percursos, completando a resistência dos mais resistentes, foram percursos de procura da esperança, da tal utopia com os pés assentes na realidade, da imaginação, da inovação, da criatividade, e sempre com uma inquebrantável coragem cívica”.

“Só por isso, a Ana Maria merecia - pensei ao longo dos últimos dias e semanas - a Ordem da Liberdade. Só que ela quis projectar essa sua luta pela democracia integral na educação. Acreditava que a educação era a forma mais duradoura, mais forte, mais determinada de mudar as sociedades. E começou a mudar, ela própria, antes mesmo do 25 de Abril. E nunca deixou de mudar, através da educação”, prosseguiu.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu que a escola A Torre “foi o seu grande projecto”, mas assinalou que Ana Maria Vieira de Almeida participou noutras instituições, como a Civitas, a Pro Dignitate e o Instituto de Apoio à Criança, “todas do domínio da educação”, em que “esteve sempre presente”.

“E por isso pareceu-me que uma forma de assinalar a luta pela liberdade através da educação se traduzia na atribuição da Ordem da Instrução Pública, ordem que caiu quase em desuso ao longo de anos, quase décadas. No fundo, a sua vida foi uma vida de luta pela liberdade, contra a ditadura, contra a repressão, contra as opressões económicas e sociais, mas libertação através da educação, também através da educação”, acrescentou.

Dirigindo-se a Vasco Vieira de Almeida, o chefe de Estado declarou: “É em nome de todos os portugueses que tenho a honra de entregar ao Vasco, se ele tiver a paciência de subir os degraus, a Ordem da Instrução Pública, pela dedicação da Ana Maria à educação para a liberdade e para a democracia em Portugal”.

O Prémio Ana Maria Vieira de Almeida, no valor de 20 mil euros, terá carácter bianual e será atribuído aos autores de trabalhos de investigação em modelos inovadores na área da educação infantil, pré-primária e primária.

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