UE precisa de investir mais 1% do PIB por ano para atingir metas climáticas até 2030

Um novo estudo garante que “a percentagem de financiamento público depende, desde logo, da vontade do sector público em tributar as emissões”. A Comissão Europeia estipulou como metas a de reduzir 55% das emissões poluentes na UE até 2030 e a de chegar à neutralidade carbónica, isto é, zero gases com efeito de estufa, em 2050.

Foto
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen Reuters/YVES HERMAN

A União Europeia (UE) deve passar a dedicar mais 1% anualmente do seu Produto Interno Bruto (PIB) a investimentos públicos “verdes” para reduzir as emissões poluentes até 2030 e chegar à neutralidade carbónica, indica um estudo esta sexta-feira divulgado.

“A necessidade de investimento público adicional necessário para cumprir os objectivos climáticos da União Europeia situa-se entre 0,5% e 1% do PIB anualmente durante esta década”, revela o grupo de reflexão Bruegel, especializado em assuntos económicos e sediado em Bruxelas, num estudo a que a agência Lusa teve esta sexta-feira acesso.

No documento sobre “Um pacto fiscal verde: investimento climático em tempos de consolidação orçamental”, que será apresentado este fim-de-semana na reunião dos ministros da Economia e das Finanças da UE (Ecofin), na Eslovénia, lê-se que “a percentagem de financiamento público depende, desde logo, da vontade do sector público em tributar as emissões”.

Por isso, o grupo de reflexão sugere que “os países da UE devem tributar mais as emissões, de modo a que o investimento em infra-estruturas climáticas se torne mais rentável para o sector privado, aliviando o erário público”.

“No entanto, dada a natureza de bens públicos de alguns dos investimentos necessários e das escolhas políticas existentes, a nossa melhor estimativa é que a despesa pública terá ainda de aumentar em cerca de 100 mil milhões de euros por ano”, acrescenta o Bruegel, admitindo um “grande esforço orçamental que terá de ser financiado”.

A Comissão Europeia estipulou como metas a de reduzir 55% das emissões poluentes na UE até 2030 e a de chegar à neutralidade carbónica, isto é, zero gases com efeito de estufa, em 2050.

E, para o atingir, é preciso “uma expansão imediata do investimento anual na utilização de energia limpa e eficiente e no transporte em cerca de 2% do PIB” da UE, indica o Bruegel no estudo, numa alusão também às iniciativas privadas.

Recorrendo à avaliação de impacto feita pelo executivo comunitário, o Bruegel aponta ainda “necessidades de investimento anual adicionais de 360 mil milhões de euros em média, com o investimento anual a precisar de aumentar para 1.040 mil milhões de euros em média (a preços de 2015), acima dos 683 mil milhões de euros investidos anualmente na última década, a fim de atingir o objectivo intermédio de uma redução de 55% das emissões até 2030 em comparação com 1990”.

Ainda assim, o grupo de reflexão admite que esta necessidade de investimento pode ser dificultada pela actual situação económica da UE, em que os países tentam recuperar da crise gerada pela covid-19, alertando que “durante a próxima fase de consolidação fiscal, os decisores políticos devem estar atentos ao ritmo e à composição da despesa pública”.

“Episódios anteriores de consolidação resultaram em grandes cortes no investimento público, enquanto agora há necessidade de um grande aumento no investimento”, observa o Bruegel.

Esta estrutura especializada sugere, então, a introdução de uma “regra de ouro verde”, a “opção mais promissora” a seu ver, que passa por “relaxar o rigor do quadro orçamental da UE” para apostas “verdes”.

Em concreto, isto significaria “excluir o investimento público “verde” líquido dos cálculos do défice e da dívida ao abrigo das regras orçamentais da UE”, permitindo uma “aplicação mais flexível das regras orçamentais existentes”.

Ainda assim, o Bruegel admite que “o impacto incerto do crescimento da despesa pública ‘verde’ e os riscos para o crescimento decorrentes das alterações climáticas criam ‘trade-offs' [conflitos de escolha] difíceis nos países mais fracos do ponto de vista orçamental”, pelo que sugere ainda uma melhor política reguladora e um preço mais elevado das emissões poluentes como forma de incentivar o investimento “verde” privado e reduzir os custos públicos.

Sugerir correcção
Comentar