“O meu partido é o Porto”?

Perante o grave crime patrimonial cometido no Museu Romântico do Porto, o slogan com que Rui Moreira se candidatou e ganhou a Câmara do Porto tornou-se enganador e tão oco como o novo interior do museu.

Com este efectivo slogan, e anunciando uma independência política dirigida à verdadeira gestão da cidade baseada na autenticidade e verdadeiro interesse dos cidadãos, Rui Moreira candidatou-se e ganhou a Câmara Municipal do Porto.

Perante o grave crime patrimonial cometido no Museu Romântico do Porto, com o esvaziamento dos interiores e radical destruição do seu conceito museológico, cujo potencial era ilustrado pelo alto sucesso pedagógico junto a instituições de ensino e alto reconhecimento dos portuenses, este slogan tornou-se enganador e tão oco como o novo interior, destruído em nome de uma falsa purificação depuradora e abstracta.

O museu, criado em 1972, reconstituindo um interior da alta burguesia no importante período oitocentista de Revolução Liberal e empreendedorismo nortenho, ilustrava o espírito portuense na sua determinada independência e iniciativa. (para os interessados no museu de 1972: https://www.youtube.com/watch?v=Q6cR_hUqC0g)

Numa intervenção de 2016-2018, com um investimento de meio milhão de euros e com o apoio da Europa, o museu foi requalificado e melhorado nas suas facetas pedagógicas.

O conjunto de apurada reconstituição de interiores num contexto arquitectónico apropriado numa quinta (Quinta da Macieirinha), na famosa Rua de Entre Quintas, foi reconhecido e louvado no seu carácter único e precioso potencial ilustrativo de um importante período da História, pelo próprio Rui Moreira no seu discurso de reabertura.

Este discurso tornou-se agora num incompreensível e patético paradoxo e, para muitos, num grave absurdo cujas consequências culturais estão a indignar um número crescente de portuenses num clamor crescente.

Ora, curiosamente eu tinha utilizado o mesmo slogan em dois artigos no PÚBLICO, estes dirigidos a Lisboa. No último, “O meu partido é Lisboa (2)”, afirmava no meu cepticismo em relação ao crescente distanciamento dos genuínos cidadãos da Política: “As únicas forças verdadeiramente e antecipadamente vencedoras das próximas eleições autárquicas são as forças da cidadania activa e participativa.” E afirmava ainda: “No entanto, estas forças, constituídas por grupos heterogéneos e flutuantes de cidadãos, unidos apenas por temas, mas com diferentes, variadas e pluralistas motivações e convicções, mantêm-se exteriores às definições de campos políticos. Não nos espantemos, portanto, que nós, como votantes, sejamos também ‘órfãos políticos’ sem candidatos que nos representem, capazes de nos libertarem do ‘limbo’ a que fomos condenados.”

Esta é a minha mensagem implícita mas directa a Rui Moreira.

E explicitamente: será que a Europa sabe como o seu investimento foi utilizado e gravemente desperdiçado?

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