Combustão experimental

Um outro aspecto da recente entrevista do ministro Manuel Heitor diz respeito à vontade de abrir três novas escolas médicas públicas, não tendo em conta necessidades, número de médicos, ou custos de um Estado, ainda sob alguma influência de um anterior primeiro-ministro que afirmou que a dívida pública não era para pagar, somente para gerir.

A entrevista que o ministro Manuel Heitor concedeu ao Diário de Notícias parece um ensaio pós doutoramento, uma variação do tema que escolheu no acto académico que teve lugar no Imperial College de Londres, em 1985.

Contudo, no actual ensaio, Manuel Heitor não se fica pela experiência, vai directo à realidade, incendeia. É verdade que a vocação para discutir assuntos e carreiras dos médicos tem algum tempo, com conhecimento público em entrevista concedida ao jornal Expresso há cerca de três meses.

Não sendo fácil opinar sobre o que não se sabe, nem se tem qualquer experiência, com facilidade se agridem profissionais da área em questão, neste caso os médicos de um país onde nunca foi fácil ser profissional, onde um longo percurso de aprendizagem é exigido para se ser competente, ser útil para os seus concidadãos.

O ministro Manuel Heitor, com a pasta da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, parece uma onda na maré cheia, invadindo terreno sem cerimónias, opinando sobre os médicos e os seus deveres, pior ainda, sobre o que é fácil ou difícil nas diferentes especialidades médicas.

Dedicando-se, desde o início dos anos 90, ao estudo de políticas de ciência, tecnologia e inovação, utiliza agora a inovação como a criatividade com um propósito, infelizmente este último desajustado, a agressão que faz aos médicos em geral, mas sobretudo aos especialistas de medicina familiar.

Habitué” em Londres, não deverá sentir qualquer enxovalho ao ser desmentido pela Associação Médica Britânica, quando afirmou que a formação dos médicos de família no Reino Unido era menos exigente do que a de outras especialidades.

Um outro aspecto da recente entrevista do ministro Manuel Heitor diz respeito à vontade de abrir três novas escolas médicas públicas, não tendo em conta necessidades, número de médicos, ou custos de um Estado, ainda sob alguma influência de um anterior primeiro-ministro que afirmou que a dívida pública não era para pagar, somente para gerir.

Esta aptência que o ministro mostra para as escolas públicas, pretendendo ignorar o que se passa no sector privado, a preparação e competência de entidades para submeter projectos credíveis de mestrados de medicina, não é própria de quem tem obrigação de prestar contas a todos os cidadãos, sejam profissionais do sector público ou privado.

Assim, a entrevista do Senhor Professor Manuel Heitor ao Diário de Notícias do dia 2 de Setembro, é ofensiva para os médicos, para os docentes das escolas médicas, para todos os que recorrem aos serviços de saúde. A contestação que neste momento existe em relação aos desejos do senhor ministro é justa e correcta, exigindo uma natural e rápida retratação.

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