Receios de fraude e de violência marcam escolha do novo Presidente de São Tomé

Vila Nova e Posser da Costa disputam segunda volta das presidenciais de domingo. Oposição denuncia manobras irregulares do MLSTP, que acusa ADI de “incitação à violência e ao ódio”. Guterres apela ao diálogo.

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Carlos Vila Nova, candidato da ADI, venceu a primeira volta das presidenciais NUNO VEIGA/Lusa
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Guilherme Posser da Costa, do partido do Governo, acusa adversários de "incitação à violência e ao ódio" NUNO VEIGA/Lusa

Os eleitores de São Tomé e Príncipe escolhem este domingo o sucessor do Presidente Evaristo Carvalho entre suspeitas de fraude eleitoral e receios de violência nas ruas. 

A segunda volta das eleições presidenciais no país africano realiza-se quase dois meses depois da primeira e tem como candidatos Carlos Vila Nova, da Acção Democrática Independente (ADI), e Guilherme Posser da Costa, do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP).

Vila Nova foi o candidato mais votado na primeira ronda, a 18 de Julho, com 43,3%, mas lançou fortes suspeitas sobre o MLSTP pelo facto de, na sua opinião, “não ter medida para atingir o seu fim”. 

“Se tiverem de fazer fraude, vão fazer”, afiança o dirigente político da ADI, citado pela emissora alemã DW, questionando o discurso antecipado de vitória que diz estar a ser promovido pelo partido que lidera o Governo de São Tomé.

“Como é que ganham? Tem que ser com malandrice. É por isso que cada um de nós vai ter de estar atento, não serão só os membros da mesa”, garante Vila Nova.

A estratégia do candidato da ADI passa por convencer os indecisos e, principalmente, os eleitores que se abstiveram na primeira ronda – cerca de 35 mil, segundo a DW. “É preciso, de facto, olhar para este eleitorado porque foi uma franja bastante grande”, afirmou. 

O atraso na realização da segunda volta teve origem, num primeiro momento, num pedido de recontagem de votos ao Tribunal Constitucional feito pelo terceiro classificado na primeira volta – Delfim Neves, presidente da Assembleia Nacional, do Partido de Convergência Democrática (PCD) –, mas prolongou-se por causa das dificuldades de entendimento entre a ADI e o MLSTP para a marcação de uma nova data.

Pelo meio, Evaristo Carvalho exonerou o ministro da Defesa, Óscar Sousa, acusado pela ADI de ter ordenado a detenção do Presidente e do primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, numa tentativa de golpe.

O ambiente político em São Tomé é, por isso, tenso. Às denúncias, de Vila Nova, sobre a potencial fraude eleitoral, somam-se as acusações de Posser da Costa ao seu adversário, dizendo que aquele tipo de posições públicas e os protestos recentes da ADI são uma “prova evidente de incitação à violência e ao ódio”.

“Não estamos numa batalha de vida ou morte. Estamos a ser protagonistas de um acto democrático”, sublinha o candidato do MLSTP, que conseguiu 20,7% dos votos na primeira volta, pedindo “calma e serenidade” à população e sublinhando que o seu “lema” é a “harmonia e progresso”.

“Os são-tomenses honestos reconhecem que eu sou um cidadão verdadeiro, um patriota e nacionalista que sempre esteve aqui”, destaca Posser da Costa.

A tensão entre as duas candidaturas levou mesmo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a emitir uma declaração a apelar à “abstenção” de “quaisquer actos de violência” em São Tomé e Príncipe.

“O secretário-geral tem acompanhado de perto o processo eleitoral presidencial em São Tomé e Príncipe e lembra que a primeira volta foi conduzida pacificamente”, disse na sexta-feira Stéphane Dujarric, porta-voz do ex-primeiro-ministro de Portugal.

“[Guterres] encoraja todos os envolvidos a continuarem a utilizar o diálogo, a estabelecerem canais legais para a resolução de disputas e a absterem-se de quaisquer actos de violência”, acrescentou Djurracic, citado pela agência Lusa. 

Entre os vários observadores que vão marcar presença no acto eleitoral de domingo destaca-se Manuel Augusto, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, em representação da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC).

A missão da CEEAC foi descrita como uma “missão de bons ofícios junto dos actores políticos são-tomenses com vista à preservação da estabilidade política” no país. 

“Estamos plenamente convencidos, ao nível da região, que tudo vai correr bem”, afirmou o ex-ministro angolano, garantindo ainda que aquilo “que correr menos bem” será resolvido com “soluções sempre pacíficas”.

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