Técnica diz que sociedade falhou no caso do homicídio de jovem autista de Mirandela

Alegações finais, que estavam agendadas para esta sexta-feira, foram adiadas para 15 de Setembro, altura em que deverá ser, de novo, ouvida, a pedido do Ministério Pública a perita que fez o relatório psicológico da acusada, mãe da vítima

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O corpo do jovem foi encontrado pela GNR, depois do alerta da própria mãe Rui Gaudêncio

Uma técnica que testemunhou esta sexta-feira no julgamento do homicídio pela mãe de um jovem autista de Mirandela, no distrito de Bragança, alertou que toda a sociedade falhou neste caso. “Falhámos todos enquanto sociedade”, afirmou Celmira Macedo, especialista na área da deficiência, conhecida pelo trabalho desenvolvido no distrito de Bragança com a criação da escola de pais e a associação Leque, dedicadas a esta temática.

A técnica considerou que a sociedade falhou quando mandou para casa crianças e jovens sem uma rede de apoio, aquando do início da pandemia covid-19 e dos confinamentos com os encerramentos das respostas sociais. O jovem de 17 anos deixou de frequentar a escola nestas circunstâncias e ficou ao cuidado da mãe que, sozinha, tratava dele na aldeia de Cabanelas, em Mirandela.

A 6 de Julho de 2020, o jovem, que sofria de autismo, foi resgatado morto de um poço, e a mãe, de 54 anos, confessou que foi ela que o empurrou, justificando-o com a pressão a que estava sujeita, garantindo que não fora premeditado.

A mãe tomava conta do jovem sozinha e partilhou com o tribunal que o filho ficou mais agressivo desde que ficou em casa, alegando que no dia da morte saiu com ele para um terreno agrícola para o tirar de casa.

Na sessão do julgamento desta manhã, a mãe reiterou que saiu com o filho naquele dia para ir dar uma volta pela propriedade agrícola nas imediações da aldeia com a intenção de o distrair.

A mulher, acusada de homicídio qualificado, disse que viveu “um inferno”, desesperada, porque o filho ficou mais agressivo e nem a medicação parecia fazer efeito.

Segundo disse, noutra ocasião, chegou a chamar o 112, que colocou o jovem num colete de força, e pediu-lhes que o deixassem internado uns dias, mas no dia seguinte mandaram-no novamente para casa.

O tribunal de Mirandela tinha marcado para esta sexta-feira as alegações finais do julgamento, que foram adiadas, porque o Ministério Público pediu para voltar a ser ouvida, para mais esclarecimentos, a perita que fez o relatório psicológico da arguida.

O colectivo de juízes aceitou e marcou para 15 de Setembro, às 10h, nova sessão para audiência da perita e para as alegações finais.

O caso começou a ser julgado a 1 de Junho, no tribunal de Mirandela, com a particularidade de ter um júri. O modelo foi solicitado pelo advogado de defesa da arguida que requereu o julgamento com a participação popular, uma solução que a lei portuguesa prevê apenas para os crimes mais graves.

Além dos três juízes que compõem o colectivo, há também quatro jurados a analisarem a prova produzida e na base da qual irão decidir em conjunto sobre a culpa e a pena a aplicar à arguida.

A mulher está em prisão preventiva desde a altura dos factos e depois de ter confessado.

Em 6 de Julho de 2020, foi a própria que alertou as autoridades, que encontraram o jovem de 17 anos morto num poço, na zona de Cabanelas.

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