“É pura magia o que estamos a viver”

João Rodrigues, o atleta português com mais presenças em Jogos Olímpicos, confessa que redescobriu o prazer de praticar windsurf com a chegada dos foils ao mundo da vela.

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João Rodrigues a velejar na Madeira Pedro Vasconcelos

É o atleta português com mais presenças em Jogos Olímpicos, contando com sete edições como atleta - desde 1992, em Barcelona, até 2016, no Rio de Janeiro, onde foi o porta-estandarte da delegação portuguesa – e uma como presidente da Comissão de Atletas Olímpicos – este ano em Tóquio.

Com cerca de quatro décadas dedicadas ao windsurf, João Rodrigues conta no currículo com mais de 60 medalhas em provas internacionais, mas, em conversa com o PÚBLICO, confessa que após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro redescobriu o prazer de praticar a modalidade com a chegada dos foils ao windsurf: “Voltei a ser criança quase aos 50 anos e isso tirou-me o sono. É bom de mais.”

Continua a assumir cargos de responsabilidade ligados ao desporto e à náutica – é o director regional de Juventude da Madeira e o capitão de equipa da selecção nacional que vai competir na Star Sailors League -, mas os Jogos Olímpicos de Tóquio podem ter sido o último capítulo de uma ligação de quase três décadas de João Rodrigues às olimpíadas.

Após participar nos Jogos Olímpicos de 1992, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016, Rodrigues esteve em Tóquio como presidente da Comissão de Atletas Olímpicos e aproveitou a proximidade com a prova para escrever ao longo de 23 dias um conjunto de crónicas que vão ser editadas em livro pelo Comité Olímpico de Portugal: “Ainda não há data para publicação. Gostava que fosse no encontro nacional de atletas olímpicos, no dia 27 ou 28 de Setembro, mas não haverá tempo.”

Em conversa com o PÚBLICO, o windsurfer madeirense confessa que sabia que a oitava presença nuns Jogos Olímpico seria “um desafio interessante”, uma vez que seria numa “perspectiva de espectador, embora estivesse muito envolvido na missão praticamente desde o Rio de Janeiro enquanto membro da comissão de atletas olímpicos”.

No entanto, sem vestir a “pela de competidor”, Rodrigues admite que houve “momentos que custaram um pedacinho, principalmente quando” viajou até “Enoshima, a sede da vela”: “Ainda tentei auto-sabotar para não escolher o dia do windsurf. Foi uma medida de protecção inconscientemente. Sabia que ia custar um pouco. Foi uma perspectiva diferente.”

Terminada a missão em Tóquio, o velejador diz que não irá continuar como presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, uma vez que deve surgir “gente nova, com novas visões e formas de estar. Entendo que a presença do presidente deve ser mais assumida e assumi funções na Madeira que me retiram a disponibilidade que tinha no início”.

Num balanço de quatro anos no cargo, João Rodrigues afirma ter sido “uma honra presidir os destinos da comissão”, acrescentando que “uma das razões” que o “levou a candidatar foi tentar retribuir um pouco ao movimento olímpico aquilo que havia recebido durante décadas”. “Continuo a acreditar que a balança está inacreditavelmente desequilibrada. Recebi muito mais do que consegui dar, mas para mim foi uma forma de retribuir um pouco, com a minha experiência e disponibilidade.”

Mesmo sem cargos oficiais ligados ao movimento olímpico e ao windsurf, o madeirense de Santa Cruz tem readquirido o prazer de velejar. E a culpa é da tecnologia. “Quando acabaram os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a minha perspectiva não era continuar a andar na classe olímpica. A prancha era muito pesada e exigente fisicamente. Acabei por vender o material todo uns meses depois e as anteriores classes estavam já um pouco ultrapassadas. Não havia nada que me tirasse o sono”, começa por admitir ao PÚBLICO.

No entanto, “de repente apareceram os foils”. “Ainda me lembro do primeiro dia em que andei: foi como se estivesse a aprender a andar de windsurf outra vez. Eu não sabia andar. Passei meia hora aos tombos.”

Com uma “maneira de velejar complemente diferente do windsurf convencional”, Rodrigues “teve que aprender a velejar do início”. “Voltei a ser criança quase aos 50 anos e isso tirou-me o sono. É bom de mais”, confessa, deixando, com um sorriso, um pequeno lamento: “Tenho imensa pena de não ter menos 20 anos.”

Sobre a evolução do windsurf e da vela em geral, João Rodrigues refere que “se em Barcelona 92 alguém dissesse que 30 anos depois com seis nós de vento” seria possível “andar a 20 de velocidade”, consideraria essa possibilidade como “imaginação ou ficção científica.

“O que vivemos hoje parece irreal, pelo menos para mim que nasci noutra época e noutro conceito de prancha. Isto para mim é magia. É pura magia o que estamos a viver. Poder fazer isto é um privilégio.”

Ouça a conversa completa com João Rodrigues aqui

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