A objectificação da mulher no regresso às aulas da Worten

Numa cena nem por isso original e que mais parece tirada do American Pie, um pai surpreende o filho no quarto a olhar para uma revista pornográfica. Não, não é uma piada de mau gosto, é um anúncio da Worten como parte da campanha do regresso às aulas.

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Miguel Manso

O anúncio da Worten, disponível há poucos dias, fala por si. Numa cena nem por isso original e que mais parece tirada do American Pie, um pai surpreende o filho no quarto a olhar para uma revista pornográfica. Resposta do filho diante da incredulidade paterna: “estou a poupar no portátil”. 

Não, não é uma piada de mau gosto, é um anúncio da Worten como parte da campanha do regresso às aulas cujo mote, poupar, pretende levar os clientes às suas lojas. Mas se todos gostamos de uma boa promoção, ao mesmo tempo custa estar em pleno século XXI diante de dois erros crassos: a objectificação óbvia da mulher nas páginas de uma revista para adultos e a promoção da mesma perante uma criança.

O anúncio, a correr livremente nos meios de comunicação social, é um claro ataque à mulher e à criança, ainda e sempre o elo mais fraco quando são os homens a tomar decisões, tal como esta publicidade exemplifica. Ainda nos questionamos sobre as intenções da equipa inteira por detrás do anúncio. Poderá este ser justificável? Não creio quando querer ser engraçadinho implica encontrar espaço para a promoção da exploração sexual na criança, na escola e na educação.

Que tipo de adultos queremos formar? Que tipo de homens queremos formar? Mais do mesmo depois de milhares de anos durante os quais a mulher subserviente não foi senão objecto para satisfação do homem? Que tipo de relações irão os jovens construir quando a imagem da mulher como fonte de desejo continua a ser veiculada em casa e nos media? 

Publicidade deste calibre não é senão, e infelizmente, um convite ao abuso sexual quando rapazes como os deste anúncio se virem diante da natural recusa das raparigas e mulheres perante os seus avanços. E assim se repete tristemente a história entre crimes e traumas, violência e violações, gravidezes indesejadas, a saúde mental e a auto-estima, tantas vezes o suicídio como resultado de uma justiça inoperante, o impacto na família e na sociedade e que sociedade queremos nós.

Tudo isto é óbvio. Só não foi óbvio para quem fez o anúncio. Só não foi óbvio para quem o aprovou. Será tudo uma questão de educação? E se estas palavras doem, mais uma razão para serem ditas. E repetidas. Até à exaustão. Até que os outros, do lado de lá, aprendam.

A retirada imediata do anúncio, juntamente com um pedido de desculpas por tal campanha, é o mínimo esperado. Quanto à Worten, acabou de perder um cliente.
 

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