Lei do aborto mais restritiva dos EUA entra em vigor no Texas

O Presidente norte-americano condenou a lei que “prejudica significativamente o acesso das mulheres aos cuidados de saúde de que precisam, especialmente para as comunidades negras, ou indivíduos com baixos rendimentos”.

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O Supremo Tribunal dos EUA não respondeu aos apelos para bloquear a lei do aborto no estado do Texas MICHAEL REYNOLDS/EPA

Entrou em vigor esta quarta-feira uma das leis de aborto mais radicais nos EUA: no Texas passou a ser proibido a maioria dos abortos depois das seis semanas de gravidez, mesmo em casos de incesto ou violação. A medida permite que qualquer cidadão possa processar quem realizar, ajudar ou incentivar o procedimento.

A lei, conhecida como Senate Bill 8 (SB8), foi aprovada pelo parlamento do Texas, dominado pelo Partido Republicano, e assinada pelo governador, Greg Abbott, em Maio. Passa, assim, a ser proibido quase totalmente o aborto no estado, uma vez que entre 85% a 90% dos abortos ocorrem depois das seis semanas. Não há excepções para casos de incesto ou violação.

Nenhuma medida do género entrou em vigor em qualquer estado norte-americano desde 1973, quando o Supremo Tribunal aprovou a lei Roe v. Wade, que consagrou o direito constitucional ao aborto. Apesar de a lei não ter sido bloqueada em tribunal, ainda pode acontecer, uma vez que não foi verificado judicialmente se é constitucional.

Outros estados já aprovaram leis semelhantes sobre a proibição do aborto depois das seis semanas – quando costuma ser detectado o batimento cardíaco –​, mas foram todas bloqueadas em tribunal

As pacientes podem não ser processadas, mas são potenciais arguidos médicos, funcionários de clínicas, alguém que ajude a pagar o procedimento e até motoristas da Uber que transportem um paciente até uma clínica de aborto. Já os cidadãos que vencerem o processo terão direito a pelo menos dez mil dólares.

Alguns médicos vão deixar de disponibilizar o serviço, o que pode levar ao encerramento de muitas clínicas de aborto no Texas. 

“Vamos todos cumprir a lei, mesmo que seja antiética, inumana e injusta”, disse o médico Ghazaleh Moayedi, que realiza abortos. “Mas o meu maior receio é garantir que as pessoas mais vulneráveis na minha comunidade, as pacientes negras e latinas que sigo, que já têm mais riscos pelos obstáculos logísticos e financeiros, consigam o acompanhamento que precisam”, disse, citado pelo Guardian

O acesso ao aborto vai ser um caos absoluto”, disse Amanda Williams, directora executiva do grupo de apoio ao aborto, Lilith Fund, que tentou bloquear a lei. “Infelizmente, muitas pessoas que precisam do procedimento vão escapar, como temos assistido nos últimos anos”, continuou. A medida vai obrigar a maioria dos pacientes que têm recursos a sair do estado para procurar o procedimento.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, condenou, numa declaração, a lei, considerando que “prejudica significativamente o acesso das mulheres aos cuidados de saúde de que precisam, especialmente para as comunidades negras, ou indivíduos com baixos rendimentos”.

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