Ser, ter, estar — para uma filosofia do “estar”

Julgo que precisamos como de pão para a boca de gente que se reveja na ordem do “estar”, que se reclame do mundo do “estar”. Do estar presente, do fazer-se presente, do estar ao lado dos outros, do estar na realidade, no terreno, na rua.

1. No mundo ocidental, desde sempre se valorizou a distinção entre a “ordem do ser” e a “ordem do ter”. A destrinça tem pergaminhos na filosofia e na teologia, mas transitou com facilidade para a sociologia e até para a “ideologia” (para as “ideologias”). A valorização da dicotomia tem estatuto ético ou moral e, nesse sentido, pertence umbilicalmente aos domínios da filosofia, da teologia e da religião. Nas culturas judaico-cristãs, este dualismo tem assento evangélico na célebre passagem de Mateus, 6, 24: “Ninguém pode servir a dois senhores (…). Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. O advento do capitalismo, com as suas exigências de acumulação, tornou a dualidade ainda mais premente e intensa. As várias incarnações do modo económico capitalista e todas as reacções que suscitaram nunca deixaram de representar esse dilema ético do “ser” e do “ter”. À medida que o capitalismo se “massificou” e “popularizou”, a voragem e a vertigem consumista acentuaram ainda mais a polarização entre a “ordem do ser” e a “ordem do ter”. Na política e na economia, na vida social e nos livros de auto-ajuda, nos meios de comunicação tradicionais e nas redes sociais, é recorrente o enfrentamento entre esses dois “modos de vida” e a troca de acusações sobre “quem” e “o quê” representa e encarna uma ou outra.

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