Com o fim do prazo, afegãos que queiram sair dependem dos taliban

Milhares de pessoas não conseguiram lugar nos aviões que nas últimas duas semanas retiraram mais de cem mil civis do Afeganistão. Taliban dizem que não vão proibir saídas depois de terça-feira.

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A operação de retirada de civis do Afeganistão entra na recta final e milhares ainda permanecem no país Reuters/US MARINES

Depois de duas semanas marcadas por uma campanha histórica de retirada de civis em contexto hostil, as atenções passam para possíveis soluções sobre o que se irá passar a partir de terça-feira, a data-limite para a retirada de todas as forças militares estrangeiras do Afeganistão. Uma das propostas em cima da mesa é a criação de uma zona de segurança humanitária para poder retirar as pessoas para além do prazo.

França e Reino Unido esperam apresentar esta segunda-feira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma resolução em que se apela aos taliban o apoio para a criação de uma zona no aeroporto de Cabul para que as operações de evacuação aérea possam prosseguir nos próximos dias.

“O que estamos a tentar fazer é conseguir organizar operações humanitárias direccionadas para evacuações que não terão lugar através do aeroporto militar em Cabul”, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, numa entrevista ao Journal du Dimanche. O objectivo primordial, diz Macron, é proteger “afegãos ameaçados e retirá-los do país nos próximos dias e semanas”, o que pode acontecer tanto a partir do aeroporto de Cabul ou através de “países vizinhos”.

Macron diz que permanecem no Afeganistão “milhares” de civis que França tem sinalizados para serem retirados por razões de segurança. “Ainda temos nas nossas listas vários milhares de afegãos que queremos proteger, que estão em risco por causa dos seus compromissos – magistrados, artistas, intelectuais – mas também muitas outras pessoas que foram indicadas por familiares e que nos dizem estarem em perigo”, explicou.

Desde que os taliban chegaram a Cabul, a 15 de Agosto, foram retiradas 114 mil pessoas do Afeganistão, incluindo militares estrangeiros e civis que colaboraram com as potências estrangeiras nos últimos 20 anos, em centenas de voos.

É incerto que a resolução franco-britânica tenha sucesso, sobretudo perante possíveis vetos por parte da Rússia ou da China, que esperam construir boas relações com os taliban. Para além disso, a criação de uma zona segura implica concessões difíceis junto do grupo que está no poder no Afeganistão, que já manifestou o desejo de travar a saída de afegãos.

Vários países, incluindo Portugal, comprometeram-se a continuar a emitir vistos para quem desejar abandonar o país, lembrando que os taliban se comprometeram a permitir a saída a quem apresente autorização de viagem.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse este domingo que os EUA estão preparados para trabalhar com os taliban para garantir a retirada de todos aqueles que desejarem já depois do fim do prazo de 31 de Agosto, mas não deu pormenores quanto à forma como isso poderia acontecer.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que há 300 cidadãos norte-americanos que permanecem no Afeganistão e que existe um “mecanismo” para que possam ser retirados após 31 de Agosto.

Apesar de terem dado garantias de que não pretendem perseguir antigos opositores ou civis que tenham colaborado com os EUA e seus aliados, começam a acumular-se os sinais de que os taliban estão longe de se terem moderado. Há relatos de ameaças contra a minoria hazara e a Amnistia Internacional responsabiliza os taliban por um massacre em Julho em que nove pessoas morreram na cidade de Mundarakht.

Os novos governantes afegãos também têm intenção de proibir que homens e mulheres estudem juntos nas universidades, de acordo com um jornalista da televisão Tolo News, e há planos para não permitir que homens possam dar aulas a mulheres.

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