Bolsonaro vê três alternativas para o seu futuro: “estar preso, ser morto ou a vitória”

Presidente brasileiro está em guerra aberta com as principais instituições judiciais e políticas do país. Falou num encontro com líderes evangélicos, um dia depois de ter incentivado a população a armar-se.

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Bolsonaro mantém a postura de desafio nas suas declarações públicas ADRIANO MACHADO / Reuters

"Estar preso, ser morto ou a vitória”. São estas a três alternativas que o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro disse ver para o seu futuro, num discurso feito este sábado, durante um encontro com líderes evangélicos em Goiânia, no centro do país.

“Tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória”, afirmou. Mas “podem ter certeza de que a primeira alternativa, preso, não existe. Estou a fazer a coisa certa e não devo nada a ninguém”, disse Bolsonaro.

As afirmações surgem num contexto de tensões com o poder judicial, já que Bolsonaro é alvo de cinco inquéritos. 

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu várias investigações contra o chefe de Estado. No início deste mês, o juiz Alexandre de Moraes ordenou que o Presidente fosse investigado por “difamação” e “incitação ao crime”. 

​O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também incluiu o Presidente numa investigação aberta em 2019 pelo STF sobre delitos e ameaças contra vários dos seus juízes.

A crise institucional agravou-se com o pedido feito por Bolsonaro para afastar Moraes, tornando-se no primeiro Presidente a avançar com um processo de impeachment contra um juiz do STF. Na semana passada, o Senado arquivou o pedido, mas o mal-estar entre os vários poderes não se dissipou. Bolsonaro também tem difundido críticas, sem sustentação, ao sistema de voto electrónico, levantando suspeitas de fraude e pondo em causa uma possível derrota sua nas eleições do próximo ano.

As declarações de Bolsonaro também surgem a pouco mais de uma semana do Dia da Independência, assinalado a 7 de Setembro, para o qual estão previstas manifestações em todo o país de apoio ao Presidente. Vários governadores têm alertado para a existência de elementos da Polícia Militar em muitos estados que apoiam publicamente Bolsonaro e têm apelado à mobilização para as manifestações. Um dos receios é que a polícia não impeça acções violentas por parte dos manifestantes.

No seu discurso, o Presidente voltou a atacar os tribunais e advertiu: “Nenhum homem na terra me vai intimidar.” Deixou também um aviso: “Temos um presidente que não deseja nem provoca rupturas, mas tudo tem um limite na nossa vida.”

Na sexta-feira, antes de ir para Goiânia, Jair Bolsonaro encorajou a população a armar-se: “Todos devem comprar uma arma. Um povo armado nunca será escravizado”, afirmou. Desde que chegou ao poder, em 2018, Bolsonaro tem defendido a compra de armas pelos cidadãos e fez aprovar vários decretos que facilitaram a aquisição de armamento de fogo. Em consequência, o número de armas a circular pela população brasileira duplicou nos últimos três anos.

A postura agressiva de Bolsonaro está a acentuar-se perante as inúmeras frentes de pressão que rodeiam o Presidente brasileiro que procura reeleger-se no próximo ano. Para além dos casos judiciais em que está envolvido, Bolsonaro tem estado no centro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga a gestão da pandemia da covid-19 - responsável por mais de 500 mil mortes no Brasil - e que tem mostrado as deficiências da estratégia do Governo federal e expôs indícios de corrupção na aquisição de vacinas. 

A performance económica também está a castigar Bolsonaro, que contava com o apoio das camadas mais pobres para sustentar a sua popularidade. A inflação tem feito disparar o preço de bens de primeira necessidade, como a alimentação, os combustíveis e o gás.

Por tudo isso, as sondagens mostram um cenário altamente desfavorável para o Presidente brasileiro, que corre o risco de não conseguir sequer chegar a uma segunda volta em 2022, enquanto o seu principal adversário, Lula da Silva, continua a recolher apoios.

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