Macron diz que França permanece no Iraque, mesmo que EUA se retirem

Cimeira de segurança em Bagdad reuniu este sábado vários líderes de países do Médio Oriente com rivalidades entre si. Irão e Arábia Saudita retomaram contactos, depois de um primeiro encontro na capital iraquiana, em Abril.

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Macron ao lado do Presidente iraquiano Barham Salih em Bagdad THAIER AL-SUDANI / Reuters

O Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a França irá manter as suas tropas no Iraque integradas nas operações de antiterrorismo enquanto o Governo local necessitar, independentemente da saída dos Estados Unidos.

Macron falava durante uma conferência de imprensa em Bagdad, onde vários líderes do Médio Oriente participavam numa cimeira sobre segurança.

Questionado sobre as evacuações no Afeganistão, Macron disse existirem discussões preliminares com os taliban sobre questões humanitárias e sobre o apoio para as pessoas que necessitam de protecção.

Para além de Macron, vários líderes regionais encontraram-se este sábado em Bagdad numa cimeira organizada pelo Iraque, que quer promover o diálogo entre os seus vizinhos. A segurança no Iraque melhorou nos últimos anos, mas ainda sofre com a rivalidade entre grandes potências e com a actuação de grupos fortemente armados.

A competição por influência no Médio Oriente entre o Irão, de um lado, e os EUA, Israel e os países do Golfo, do outro, fez do Iraque o palco de ataques contra forças norte-americanas e assassínios de líderes paramilitares iranianos e iraquianos.

As más relações na região também deram origem a perturbações no fornecimento global de petróleo com ataques contra instalações petrolíferas sauditas, cuja responsabilidade é atribuída ao Irão, que nega o seu envolvimento.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Iraque, Fuad Hussein, disse que o Irão e a Arábia Saudita, que iniciaram negociações directas em Abril, estavam a dar continuidade às conversações e que aguardava “resultados positivos”, embora não tenha dado mais pormenores.

Os organizadores da cimeira de Bagdad não esperam qualquer feito diplomático. “Conseguir que estes países se sentem à mesma mesa é uma façanha por si só”, disse um responsável governamental iraquiano.

Iranianos olham para Viena

A lista de chefes de Estado presentes inclui o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, o rei Abdullah da Jordânia, o emir do Qatar Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, e Macron. O Kuwait e os Emirados Árabes Unidos enviaram os seus chefes de Governo e a Turquia o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Macron deverá ficar mais um dia para se reunir com dirigentes iraquianos e visitar as forças especiais francesas que combatem os insurgentes do Daesh.

O Irão, xiita, e a Arábia Saudita, sunita, rivais de longa data em busca da hegemonia regional, enviaram os seus chefes da diplomacia. Os dois países retomaram as conversações directas em Abril, mas desses encontros não saiu qualquer desenvolvimento.

Os dirigentes iranianos disseram estar mais concentrados no desfecho das negociações em Viena com as potências ocidentais sobre o programa nuclear e as sanções internacionais.

“O encontro no Iraque está apenas relacionado com o Iraque e em como os países da região podem cooperar para apoiar o Iraque”, disse à Reuters um responsável iraniano ainda antes da cimeira.

A rivalidade entre os EUA e o Irão deixou o Médio Oriente perto de uma guerra depois de Washington, durante a Administração de Donald Trump, ter assassinado o principal estratega militar iraniano, Qassem Soleimani, num ataque de drone no aeroporto de Bagdad em 2020.

As milícias apoiadas pelo Irão têm lançado ataques cada vez mais sofisticados contra as forças norte-americanas no Iraque e também contra Riad.

A redução da presença militar norte-americana no Iraque e as novas negociações nucleares com o Irão, promovidas pela Administração de Joe Biden, levaram Riad a favorecer uma abertura em relação ao Irão como uma forma de baixar a tensão sem, porém, deixar de lado as suas preocupações de segurança.

Antes da cimeira, o vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Rashid al-Maktoum, encontrou-se com o líder do Qatar a quem se referiu como “um irmão e amigo”, num sinal de estreitamento de laços entre os dois rivais do Golfo.

Em 2017, a Arábia Saudita, os Emirados, o Bahrain e o Egipto cortaram as relações diplomáticas com o Qatar por suspeitas de apoio ao terrorismo – uma referência genérica a grupos islamistas –, algo que o Qatar rejeita. Desde que chegaram a acordo, em Janeiro, Riad e Cairo restauraram as relações diplomáticas, mas Abu Dhabi e Manama ainda não.

Para complicar o panorama de segurança no Iraque, as forças turcas estão a combater separatistas curdos no Norte do país. A sua presença na cimeira foi respondida com o disparo de rockets por parte de milícias alinhadas com o Irão.

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