O paradigma digital chegou à universidade: o futuro será uma combinação entre o digital e o presencial

A pandemia potenciou a construção de uma nova cultura, de onde poderemos retirar lições preciosas para a universidade do futuro. O ensino combinado permite o melhor de dois mundos pelo que a universidade tem agora em mãos um desafio enorme.

A pandemia que vivemos trouxe, desde o seu início, desafios herculeanos ao ensino superior. A adaptação rápida e eficiente exigida, para corresponder às expectativas dos seus estudantes e cumprir a sua missão, fizeram com que as universidades e politécnicos se adaptassem, efetivamente, às necessidades passando grande parte (se não todo) o seu ensino para o digital. As instituições de ensino superior por todo o país tiveram de se adaptar rapidamente a um novo contexto, o ensino à distância, o que impulsionou uma revolução já previsível, mas não imaginável num tão curto espaço de tempo. Neste momento, no limiar do início de um novo ano letivo faz sentido refletir sobre as lições que podemos retirar deste período pandémico onde se deram passos de gigante para incentivar a participação no ensino à distância, preparar os docentes para novos modelos pedagógicos e adaptar processos de aprendizagem que sejam profícuos para o futuro do ensino superior.

As metodologias tradicionais no ensino superior já sofriam algum desgaste antes da pandemia, dado que a geração que maioritariamente frequenta atualmente este nível de ensino é uma geração nativa digital, onde os formatos tradicionais não são suficientes para as suas expectativas. Já se sentia a necessidade de uma maior integração das novas tecnologias, novas plataformas, novas formas de estar e aprender, com novas dinâmicas, mais práticas e eminentemente tecnológicas e digitais.

A pandemia potenciou a construção de uma nova cultura, de onde poderemos retirar lições preciosas para a universidade do futuro. Da minha experiência, e findo o ano letivo 20/21, o ensino à distância funcionou bem e cumpriu os seus objetivos. Os estudantes mantiveram-se motivados, os professores esforçaram-se em desenvolver nos seus estudantes as competências, atitudes e conhecimentos que os levassem ao sucesso académico.

Numa perspetiva pós-pandemia devemos aproveitar todo este esforço, realizado por todos, para transformar o ensino superior num ensino cada vez mais híbrido que vá de encontro às expectativas dos estudantes, mas também que cumpra de forma mais eficiente o propósito académico. O ensino combinado permite o melhor de dois mundos, uma componente digital, personalizada, com conteúdos adequados, dinâmicos e interativos conjugado com o ensino presencial para momentos chave de partilha, exercícios de grupo e dinâmicas de aprendizagem que, pela sua especificidade, funcionam melhor em sala.

O digital é um universo recheado de possibilidades pedagógicas, mais do que as práticas do ensino à distância, potenciadas pelas plataformas digitais, existem um sem número hipóteses para proporcionar ao estudante um ensino eficaz e dinâmico, como por exemplo, com o recursos a vídeos, criação de salas virtuais, participação em seminários de qualquer parte do globo, utilização LMS’s, exploração portais como Merlot, os chats, os blogs, as plataformas académicas, os jogos didáticos, a realidade aumentada, entre outras. Mais do que isso o digital, como o conhecemos baseia-se na cultura participativa e na ideia de inteligência coletiva, o que permite aos estudantes estender os seus conhecimentos para lá da sala de aula, e englobar em cada unidade curricular uma visão global mas personalizada sobre os temas. Em vez de seguir tão somente o programa destinado para cada unidade curricular, o estudante tem aqui uma oportunidade de ir mais além, tendo um enriquecimento do processo de aprendizagem e para além de o cumprir, adaptá-lo e personalizá-lo, fazendo assim uma construção de conhecimento à sua medida.

Uma vantagem evidente no ensino online é tornar as deslocações desnecessárias, o que permite às instituições flexibilizar a utilização dos seus espaços presenciais. De facto, o que aparentemente é um ganho financeiro para os dois lados, se refletirmos sobre o investimento financeiro chegamos à conclusão que existe uma enorme necessidade de reforço de infra-estruturas tecnológicas, plataformas digitais ágeis, terminais de acesso à informação como computadores portatéis ou tablets, e formação. Todos os itens elencados anteriormente são essenciais para o sucesso do ensino combinado, mas a formação é, talvez, aquela que poderá transformar o ensino à distância no ensino de futuro. Mudar o paradigma classicista de ensino para um paradigma digital é algo que tem que ser preparado e os professores têm necessariamente que se adaptar a novos métodos de trabalho, novas formas de estar, novos processos de aprendizagem, bem como a diferentes formas de avaliação dos conhecimentos. Ensinar à distância é necessariamente diferente de ensinar em sala de aula e os professores têm que alterar o seu mindset para este novo paradigma, a formação é um forte meio de ação, a vontade fará o resto.

Já o ensino presencial tem vantagens que o ensino à distância não consegue suplantar, a vida académica, a interação com os outros, as experiências laboratoriais ou os estágios e projetos que sem este contacto perdem parte da sua essência, bem como a aquisição de algumas competências transversais, até de índole social, que só têm expressão quando desenvolvidas no ensino presencial.

Podíamos continuar durante páginas e páginas a elencar as vantagens e desvantagens do ensino presencial e do ensino digital. O futuro do ensino superior passará pela imersão num sistema híbrido, no qual estas duas formas serão combinadas com o intuito de proporcionar aos alunos a aquisição dos objetivos a que o curso se propõe e, também, pela oportunidade que dará aos estudantes de desenvolverem o seu próprio caminho académico de forma mais autónoma, dinâmica e intuitiva.

A universidade tem agora em mãos um desafio enorme, construir percursos pedagógicos dinâmicos que combinem o digital e o presencial, onde a diversificação dos caminhos académicos está dependente da qualidade de ensino, da qualidade tecnológica e de uma hibridez sensata que tire proveito da inovação tecnológica, do digital e do presencial.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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