Incidentes no desporto subiram 36% numa época sem público nas bancadas

Uso de artefactos pirotécnicos nas imediações dos estádios e demais recintos desportivos sustenta crescimento dos números.

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EPA/MANUEL FERNANDO ARAUJO

A época 2020-21 registou 2335 incidentes, numa subida de 35,8% face aos 1719 de 2019-20, apesar da ausência de público devido à pandemia de covid-19, indica o Relatório de Análise da Violência Associada ao Desporto (RAViD).

“A ligeira subida poderá explicar-se pelo aumento de incidentes associados ao uso de artefactos pirotécnicos nas imediações dos recintos desportivos, em ajuntamentos de adeptos (acções de incentivo às equipas ou celebrações de êxitos desportivos) que acompanharam o decréscimo dos níveis de confinamento geral da população portuguesa ao longo da época”, explica o documento agoradivulgado, no rescaldo de meses de competição disputados na íntegra perante estádios e pavilhões praticamente vazios.

A segunda edição do RAViD reúne dados recolhidos entre 1 de Setembro de 2020 e 30 de Junho de 2021 pelo Ponto Nacional de Informações sobre Desporto (PNID) e pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD), que prolongaram a atipicidade visível na retoma gradual de provas na recta final de 2019-20.

“O aumento significativo do número de autos de notícia por contraordenação levantados pelas forças de segurança relativamente ao não cumprimento de deveres dos promotores de espectáculos desportivos (clubes) constitui um segundo factor que explica a subida do número total de infracções”, agrega o relatório, com um somatório bem abaixo dos 3891 casos de 2018-19, a última época completa sem limitações causadas pela pandemia.

De 2019-20 para 2020-21, cresceram as ocorrências originadas no recurso à pirotecnia (de 817 para 1398), no incumprimento de deveres dos promotores de espectáculos desportivos (de 114 para 315) e em outras de índole desconhecida (de 141 para 439).

Pelo contrário, houve descidas acentuadas em injúrias (de 144 para 84), agressões (de 128 para 42), danos (de 98 para 16), incitamento à violência, ao racismo, xenofobia e intolerância (de 73 para 15), arremesso de objectos (de 105 para 12), invasão da área de jogo (de 42 para 12) e posse ou consumo de estupefacientes (de 15 para dois).

Das 2335 ocorrências, resultaram 17 detenções, abaixo das 61 na época anterior, e a identificação de 335 indivíduos, contra as 402 somadas em 2019-20, sendo que 88% (2054) estão concentradas no futebol e 12% (281) dispersas por outras modalidades.

Uso de artefactos pirotécnicos domina estatística

Para lá da expectável predominância em jogos da I Liga de futebol, cujas infracções subiram de 912 para 1.498, o RAViD registou ainda incidentes noutras provas, como distritais (200), Campeonato de Portugal (112), escalões de formação (109), Taça de Portugal (85), II Liga (21), futebol feminino (14), competições europeias (10) e Taça da Liga (cinco).

Dentro do crescimento de 30% de ocorrências no futebol diante das 1577 em 2019-20, 82% (1225) na I Liga assentaram na posse ou uso de artefactos pirotécnicos, motivando 12 indivíduos detidos, menos oito face à época anterior, e 248 identificados, mais 50.

Em termos de matéria de sancionamento, o PNID registou um decréscimo de 28% na entrada em vigor de medidas de interdição de acesso a recinto desportivo (160), 131 das quais resultantes de decisão da APCVD e as restantes 29 determinadas por autoridades judiciárias, na sequência do recorde de 222 acções estabelecido na temporada transacta.

Seis clubes reúnem 56% dos adeptos sujeitos a essas medidas, incluindo 24 afectos ao Vitória de Guimarães, 22 ao FC Porto, 18 ao Sporting, 12 ao Sporting de Braga, sete ao Benfica e seis ao Famalicão, ao passo que 44% se associam a demais emblemas (71).

A pirotecnia valeu metade das sanções de interdição (52%), com 83 casos, seguida de incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância (45), arremesso de objectos (14), injúrias (nove), invasão do terreno de jogo (sete) e agressões (dois).

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