Troço de muralha da Idade do Bronze em “excelente estado” descoberto em Beja

Arqueólogos terminam sexta-feira a campanha de Verão no Outeiro do Circo, um povoado com mais de três mil anos. Descoberta recente indica que quem ali viveu já recorria a técnicas construtivas com alguma sofisticação.

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O sítio do Outeiro do Circo tem vindo a ser alvo de escavações regulares desde 2008 DR

As escavações deste ano no povoado do Outeiro do Circo, em Beja, um sítio da Idade do Bronze, mostram que o segundo troço da muralha tem técnicas construtivas “engenhosas” e está num “excelente estado”, o que “surpreendeu” os arqueólogos.

A campanha de 2021 neste povoado perto da cidade de Beja e “um dos maiores da Idade do Bronze Final da Península Ibérica” visa concluir os trabalhos desenvolvidos desde 2019, explicou esta quinta-feira à agência Lusa o director científico das escavações, Miguel Serra.

Aqueles trabalhos permitiram descobrir o segundo troço da muralha e novos dados relacionados com a ocupação durante a Idade do Ferro.

Segundo Miguel Serra, as escavações, que arrancaram no dia 2 de Agosto e terminam amanhã, sexta-feira, revelaram que o segundo troço da muralha está em “excelente estado de conservação”, provavelmente devido ao facto de estar numa zona do sítio “em melhores condições de preservação e que não foi afectada por trabalhos agrícolas”, ao contrário do que aconteceu com o primeiro troço, a cerca de 20 metros e escavado entre 2008 e 2013.

O segundo troço, com cerca de oito metros de comprimento e três de largura, “apresenta uma estrutura e soluções construtivas engenhosas com três mil anos”, como plataformas de terra batida, rampas de barro cozido e muros de pedra com possíveis paliçadas, explicou.

A estrutura e algumas soluções construtivas deste troço são diferentes das do primeiro, o que mostra que a muralha, que tem quase dois quilómetros e rodeia o sítio quase por completo, “não foi um projecto estático”, mas “dinâmico”.

De acordo com Miguel Serra, a muralha teve diferentes fases construtivas, todas associadas às comunidades da Idade do Bronze. A estrutura “mostra também uma grande capacidade de construção das comunidades da Idade do Bronze e as capacidades que tinham para encontrar soluções pragmáticas para venceram as dificuldades que o terreno lhes apresentava”, acrescentou o arqueólogo.

Tal como em 2020, a campanha deste ano inclui escavações numa zona no interior do sítio e que estão a permitir “ver outras dinâmicas de época posterior”, nomeadamente da Idade do Ferro. Há “uma presença maior de vestígios materiais, sobretudo cerâmicas,” deste período - outros já tinham sido achados em 2020 - e uma estrutura que os arqueólogos ainda não conseguiram identificar. Trata-se de um alinhamento de pedras paralelo à muralha e colmatado com barro cozido que está ainda está a ser escavado. Parece ser cada vez mais claro, no entanto, que data da Idade do Ferro, precisou Miguel Serra.

Até agora, esta época estava muito mal documentada no Outeiro do Circo, onde “apenas” tinham sido descobertos alguns materiais residuais, mas os trabalhos mais recentes provam, segundo o responsável pelas escavações, que, depois de abandonado na Idade do Bronze Final, este sítio nos arredores de Beja terá sido reocupado, mesmo que pontualmente.

Agora, o espólio recolhido terá de ser estudado para se compreender melhor o modo de vida das comunidades da Idade do Bronze e as várias dinâmicas de ocupação deste território.

Segundo Miguel Serra, a actual campanha de escavações é a última do projecto de investigação financiado pela Câmara de Beja, que começou em 2019 e vai terminar com um colóquio a realizar até ao final deste ano.

Depois, será preciso fazer um ano de pausa nas intervenções de campo para estudar o espólio recolhido e as descobertas feitas e, em conjunto com o município, “pensar na melhor forma de dar continuidade ao projecto”, concluiu.

O Outeiro do Circo, com cerca de 17 hectares, terá sido o grande centro de poder regional antes da cidade de Beja, que se desenvolveu a partir da Idade do Ferro, no século VII a.C..

O sítio é conhecido desde o século XVIII, foi alvo de um primeiro estudo científico em 1977 e tem sido alvo de trabalhos arqueológicos regulares desde 2008.

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