IndieLisboa 2021: as sugestões de cinco filmes por quem os viu (mas não os seleccionou)

Não são programadores, mas estão em todo o lado no IndieLisboa. Cinco elementos da organização recomendam o que ver no festival que decorre até 6 de Setembro.

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Les Sorcières De L’Orient, de Julien Faraut

Competição Internacional - Longas

Uma história contada com ritmo, que valoriza as suas protagonistas e conta ao mundo um recorde ainda imbatível. O filme apresenta a situação de um Japão pós-guerra através de uma delicada junção de relatos actuais e passados da equipa de vólei feminino do país, escolhido para os Jogos Olímpicos de 1964. Com sequências musicais que combinam excertos de um desenho animado, material de arquivo e música original, Les Sorcières De L’Orient faz-nos sentar, empolgados, na ponta da cadeira à espera de um jogo que já sabemos como acaba. (Ludhy Sardinha, redes sociais)

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Les Sorcières de L'Orient DR

Letter from your Far-off Country, de Suneil Sanzgiri

Competição Internacional – Curtas

Num dispositivo fílmico onde diversos materiais de uma série de novos trabalhos são utilizados para criar a narrativa da segunda curta-metragem de Suneil Sanzgiri, encontra-se um poço de temáticas como a memória ancestral, dispersão, descolonização e solidariedade intercontinental. De uma perspectiva extra-diegética (observamos uma carta digital perante os nossos olhos), demonstra como o cinema pode, cada vez mais, ser utilizado como uma arma democrática. Através do escrever de uma carta ao líder do Partido Comunista, Prabhakar Sanzgiri, seu familiar distante, Suneil não só levanta questões sobre as suas próprias raízes, como reflecte e sugere como vivemos momentos de trauma, tendo em conta a violência e revolta em nosso redor. Pelo caminho, o filme encontra uma linguagem inovadora de videoarte com entrevistas, material de arquivo, capturas de ecrã, chamadas de vídeo e voz naquele que é um documentário experimental que explora a ideia de cinema expandido, onde as histórias não são contadas apenas através de uma lente. (Miguel Canaverde, Audiovisuais)

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Letter From Your Far-off Country DR

Forensickness, de Chloé Galibert-Laîne

Director’s Cut

Nomes como os de Chloé Galibert-Laîne ou Kevin B. Lee estão ligados a um mundo do ensaísmo de vídeo, em particular da liberdade do “documentário de desktop”, que são revolucionários por si só, porque de nenhuma outra forma se pode realmente ver um olhar se não for um dirigido ao espectador em tempo real. A comandar este olhar estão estes realizadores que filmam performances coreografadas prontas para serem transportadas enquanto exercícios intelectuais de assimilação de ideias, adição e subtracção de pormenores. Com o auxílio de imagens que nos chegam digitalmente num universo que é só nosso, mas também de todos, é sobre a democratização da informação e do acesso que a internet providencia que a realizadora quer falar. Dentro da conversa sobre a relevância do cinema hoje em dia, a sala e o ecrã de computador e como ambos têm vindo cada vez mais a colidir, Forensickness coloca o melhor e o pior da doença de como a informação é digerida no ecrã. Há seres humanos atrás de todos os ecrãs. E o cinema é sempre pensar provocativamente sobre as imagens, como elas circulam e o que lhes devemos perguntar antes de as absorvermos sem pensar. O ecrã é também onde vivemos, e através do qual o cinema viverá sempre. Chloé recorda-nos das suas tactilidades. (André Silva, gestor de sala)

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Forensickness

Survivers, de Carlos Gómez-Trigo

Boca do Inferno - Curtas

Dentro de um carro cabem três pessoas e a sobrevivência da humanidade. Confinados pelo espaço e sufocados pela revolta da impotência, as vontades pessoais sobrepõem-se ao bem colectivo. E na certeza das escolhas egoístas, o destino da humanidade é decidido. Será que os sacrifícios a que se sujeitaram para sobreviver foram em vão? Mesmo respeitando todas as regras, nunca poderão ter a certeza absoluta de que estão correctos. O dilema entre o certo e o errado é de perder a cabeça. (Rosalinda Rita, guest office/acolhimento)

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Survivers

Transportation Procedures for Lovers, de Helena Estrela

Competição Nacional – Curtas

“Olá! Boa tarde. Tenho uma dúvida sobre o envio. Posso enviar pessoas?” – assim começa um telefonema para a Fedex. Nenhum outro filme na programação fala da problemática pandémica que é a saudade da fisicalidade do corpo como este. Através de um objecto que se sente sinestesicamente, a jovem realizadora elabora uma carta de amor ao corpo daquele que se ama e à tristeza que advém do seu súbito desaparecimento. Como levar o corpo até ao amante? O que acontece quando se sente o seu toque? Da mesma forma que não podemos chamar a ambulância quando sofremos um desgosto de amor, também a Fedex não consegue ajudar durante um confinamento. Mas o filme elucida-nos do processo que é um partilhar de sensações indescritíveis e irreproduzíveis. O filme de Helena é um coração que bate tanto que nos faz sentir o seu aproximar. (Pablo Coronel, Direcção Técnica)

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Transportation Procedures for Lovers
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