Spencer Elden, o bebé na capa de Nevermind, acusa os Nirvana de pornografia infantil

O nirvana baby cresceu e quer uma indemnização pelos danos que a capa do álbum lhe causará para o resto da vida. O jovem processou a banda e várias partes envolvidas na sessão fotográfica de 1991, onde, com quatro meses, posou nu dentro de uma piscina.

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Spencer Elden processa os Nirvana por pornografia infantil DR

Se em tempos gozou a fama de ser o nirvana baby — e até chegou a tatuar o nome do álbum dos Nirvana no peito —, agora, com 30 anos, é com revolta que Spencer Elden olha para o momento em que foi fotografado, nu, dentro de uma piscina para a icónica capa de Nevermind, em 1991. O jovem avançou na terça-feira com um processo contra os membros da banda e a editora discográfica, alegando que violaram as leis criminais federais contra pornografia infantil e lhe causaram danos para a vida. A capa enriqueceu muitos dos envolvidos, mas apenas rendeu 200 dólares aos pais do bebé, que agora pretende ser indemnizado em 2,55 milhões.

“A identidade e o nome legal estão para sempre relacionados com a exploração sexual comercial que experienciou enquanto criança, vendida e distribuída no mundo inteiro desde que era um bebé até hoje”, prossegue a queixa de Spencer Elden apresentada no Tribunal Federal de Los Angeles na terça-feira, segundo a Newsweek.

Entre os acusados, estão antigos membros da banda grunge-rock — Dave Grohl, Krist Novoselic e, estranhamente, Chad Channing, baterista que deixou a banda em 1990, ou seja, antes do lançamento de Nevermind o fotógrafo Kirk Weddle e a herdeira da propriedade de Kurt Cobain, Courtney Love. Estão também implicadas várias empresas discográficas, directores artísticos e outros que, conscientemente, produziram, possuíram e divulgaram pornografia infantil comercial que retratava Spencer, e conscientemente receberam valor em troca”.

Além disso, de acordo com o processo, “os réus falharam em tomar medidas razoáveis ​para proteger Spencer e prevenir a sua exploração sexual generalizada e tráfico de imagens”. Os advogados do norte-americano alegam, ainda, que os pais nunca assinaram uma autorização do uso das fotografias tiradas ao bebé de quatro meses para a capa do álbum e que Elden nunca recebeu uma compensação.

Aos olhos da acusação, a fotografia sugere a imagem de um “trabalhador do sexo a agarrar uma nota de um dólar”. Consta ainda no processo que Weddle “activou o reflexo faríngeo de Spencer antes de o colocar debaixo de água em poses que destacavam e enfatizavam os genitais expostos”, com o objectivo de “accionar uma resposta sexual visceral do espectador”.

Numa entrevista à NPR, em 2008, Rick Elden, o pai do queixoso, recordou a oferta de 200 dólares para deixar que o amigo Kirk Weddle fotografasse o seu filho para a capa. “Acabámos por fazer uma grande festa na piscina e ninguém tinha ideia do que estava a acontecer”, disse na altura. A sessão fotográfica durou 15 segundos no centro aquático de Pasadena e os pais de Spencer receberam o valor acordado. Posteriormente, foram adicionados digitalmente o anzol e a nota de dólar. Até hoje, já foram vendidas cerca de 30 milhões de cópias daquele que viria a ser o álbum mais emblemático dos Nirvana, com músicas como Smells Like Teen Spirit e Come as You Are.

Sentimentos mistos e 2,55 milhões de dólares

O jovem artista urbano nem sempre rejeitou tão veementemente a capa do álbum. Aliás, já fez várias sessões fotográficas em que recriava o mergulho na piscina. A última, em 2016, foi em celebração do 25.º aniversário do álbum.

“Eu disse ao fotógrafo: vamos fazer nu. Mas ele achou que seria estranho, então usei calções de banho”, partilhou Elden ao New York Post na altura. “O aniversário significa algo para mim. É estranho eu ter feito isso durante cinco minutos quando tinha quatro meses e ter-se tornado uma imagem realmente icónica... É fixe, mas estranho, fazer parte de algo tão importante que eu nem me lembro”, acrescentou.

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Spencer Elden com o álbum Nevermind DR

No entanto, alegadamente, já tinha tentado antes avançar com uma acção legal contra a discográfica Geffen Records, sem sucesso. “É difícil não ficar chateado quando se ouve quanto dinheiro estava envolvido”, admitiu à revista Time em 2016. “[Quando] vou a um jogo de basebol penso nisso: toda a gente neste jogo provavelmente já viu o meu pénis em bebé. Sinto que tive parte dos meus direitos humanos revogados”, contou.

Agora, com o novo processo, Spencer Elden pretende receber 150 mil dólares de cada um dos 17 réus — o que perfaz um total de 2,55 milhões de dólares (cerca de 2,17 milhões de euros). Em alternativa, o processo poderá resultar em danos não especificados, a serem determinados em julgamento.

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