Director da CIA reúne-se secretamente com líder taliban

Washington Post noticia encontro em Cabul quando se aproxima o prazo para a retirada de estrangeiros e afegãos que trabalharam com a coligação internacional.

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Além de chefe da CIA, William Burns é um dos mais experientes diplomatas dos EUA Kim Hong-Ji/Reuters

O director da CIA, William Burns, reuniu-se secretamente em Cabul esta segunda-feira com o líder de facto dos taliban, Abdul Ghani Baradar, segundo o diário norte-americano The Washington Post.

Trata-se do encontro de mais alto nível entre EUA e taliban depois de o movimento extremista dos “estudantes de teologia” ter tomado Cabul, segundo disseram fontes sob anonimato ao jornal norte-americano. Na véspera, os EUA admitiam prolongar a sua presença militar no aeroporto de Cabul para assegurar a retirada de cidadãos estrangeiros, que muitos aliados dizem ser difícil de conseguir até 31 de Agosto. Os taliban reagiram dizendo que este seria o ultrapassar de uma “linha vermelha”. Os líderes dos países do G7 reúnem-se esta terça-feira por videoconferência para discutir a questão.

O jornal diz que o Presidente dos EUA, Joe Biden, enviou Burns, que além de chefe da espionagem tem uma carreira diplomática de 33 anos e é considerado um dos mais experientes diplomatas do país, enquanto decorrem esforços para estender a presença americana para assegurar a saída de todos os estrangeiros ou afegãos que trabalharam com as forças internacionais.

A operação já foi marcada por violência e por mortes no caos do aeroporto, com os taliban a atacarem por vezes pessoas que tentam sair do país, e a presença militar americana é vista como essencial para a operação. O próprio Biden disse que a operação é “uma das mais difíceis da história”. Apesar disso, há países, como a Alemanha, a tentar negociar uma ponte área civil em caso de a presença militar americana terminar antes do final da operação de evacuação.

O Washington Post nota o toque de ironia para Baradar ter como interlocutor o chefe da CIA, já que o taliban foi preso numa operação conjunta da CIA e dos serviços de segurança paquistaneses em 2010. Foi libertado em 2018 (a pedido dos EUA) e foi depois o negociador dos taliban com os norte-americanos em Doha.

Antes de ser conhecido o encontro, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, respondeu a uma pergunta numa conferência de imprensa sobre a razão pela qual os EUA não estavam a falar com Baradar, tendo em conta o que estava em causa no Afeganistão. “As nossas discussões com os taliban têm sido operacionais, tácticas”, respondeu Price. “Têm estado focadas em operações de curto prazo e objectivos de curto prazo”, ou seja, “o que se passa no complexo do aeroporto”, disse. “É nisso que estamos focados de momento.”

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