Dependente de duas redes móveis, a aldeia de Lamas vive sem uma delas há 18 dias

Povoação no distrito de Vila Real está sem rede móvel da Vodafone, uma situação frequente que desta vez se prolongou mais que o habitual. Prevê-se que o problema seja corrigido quinta-feira, mas até lá o isolamento de parte da população mantém-se.

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Na serra do Alvão há cabras e vacas pastoreadas com recurso a GPS e a aplicações móveis. Pedro Sarmento/Lusa

Tentar contactar parte da população da aldeia de Lamas, nos dias que correm, é tarefa árdua. Por entre os vários cortes que se fazem notar na chamada telefónica, facilmente se confirma que a povoação situada no concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real segue sem rede móvel da Vodafone. O problema persiste, desde dia 6 de Agosto . “Já é frequente ficarmos sem rede durante longos períodos de tempo”, começa por explicar Avelino. “Só que desta vez a situação arrastou-se mais”.

Avelino Rego é uma das pessoas afectadas. Estudou Engenharia Informática em Braga, mas rapidamente percebeu que era na aldeia que queria continuar a viver e trabalhar, enquanto criador de gado. Enquanto tenta falar sem ser interrompido pelos cortes, Avelino sobe a serra do Alvão porque há um animal que precisa de si. “Actualmente estou à procura de uma vaca que está para parir. E só sei onde está porque acedi à aplicação”. O habitante de Lamas recorre à digitanimal que, através da aplicação de um colar com GPS no dorso do animal, permite ao dono localizar o gado facilmente.

O único problema é que para poder usar a aplicação precisa obrigatoriamente de internet. “Preciso de dados de forma constante. Para poder usar a internet fui comprar à pressa um hotspot da NOS. Liguei-o ao isqueiro do tractor e tenho o telemóvel ligado ao hotspot. Há esta concepção errada que a agricultura e o gado são áreas que não evoluem, mas esta é uma área que não está estagnada! Introduzem-se tecnologias, só que requerem acesso constante à internet”.

Não basta ter estradas

De acordo com Avelino Rego, existem actualmente 60 habitantes na aldeia onde apenas a NOS e a Vodafone asseguram, por vezes, telecomunicações. “O universo é diminuto, mas há idosos e reformados e, principalmente, trabalhadores que precisam da rede. Parece que ainda não conseguiram compreender que as instalações básicas para trabalhar actualmente vão além das estradas”. Apesar da Câmara Municipal de Ribeira de Pena afirmar que “não têm informações acerca desta situação”, Avelino afirma que a Vodafone foi várias vezes contactada. A última actualização assegura que quinta-feira o problema ficará resolvido.

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“Disseram [da Vodafone] que a antena que estava instalada, que era de baixo alcance, se avariou. E que tudo se atrasou porque, além da pandemia, há muitas pessoas de férias”. Agora a solução passa por instalar uma micro-estação com “qualidade profissional”, que irá garantir uma maior velocidade da internet. “Até agora a aldeia estava coberta apenas com 2G e 3G. A Vodafone vai modernizar o equipamento, para servir a população também com serviço 4G”, revela Avelino Rego, que acrescenta: "Não obstante esta falha no serviço, inadmissível nos dias de hoje, ainda para mais na extensão temporal que se prolongou, a população mantém a sua satisfação com a operadora telefónica, não esquecendo que foi a primeira a aqui instalar-se pelo ano de 2012”.

O criador de gado diz que na área existem muitas “zonas sombra” (zonas sem cobertura de rede) e o facto da aldeia se situar num vale é também um impeditivo para usufruir das antenas vizinhas. E este, diz, é um dos motivos que mais impedem a evolução da economia local. “Nós podíamos investir e ter uma economia com vigor neste território, mas aplica-se dinheiro em todas as áreas e isto só vem depois. Alguém que queira instalar-se aqui, ao aperceber-se dos obstáculos que tem pela frente, percebe que não dá”.

Nos últimos 18 dias também fornecedores acabaram por ser afectados pela falta de rede. “Há dias havia um fornecedor que veio cá para falar comigo e quando viu que não tinha rede saiu da aldeia. Depois ligou para uma pessoa que por acaso conhecia e que tinha um telefone fixo. Essa pessoa é um vizinho meu e foi chamar-me. Já viu o tempo que se perde nisto?”. A pergunta retórica dificilmente esconde a tristeza que, mesmo quem já está habituado a esta realidade, sente nesta situação. “Isto era assim há 20 anos... Parece que nada mudou”.

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